Centenas de desaparecidos em naufrágio perto de Creta
Operação de resgate salvou mais de 300 pessoas. Na Líbia, começaram a dar à costa os corpos dos mortos da semana passada
Centenas de pessoas estão desaparecidas depois de um naufrágio esta sexta-feira, a sul da ilha grega de Creta. A polícia portuária afirmou que 340 passageiros foram resgatados durante uma grande operação de salvamento, mas a Organização Internacional para as Migrações (OIM) refere que o barco, proveniente de África, deveria seguir com pelo menos 700 migrantes a bordo.
O naufrágio ocorreu a cerca de 75 milhas náuticas do Sul de Creta, num território que está sob jurisdição egípcia. “As pessoas estão na água, os barcos lançaram bóias de salvação e intervieram para salvar os migrantes”, referiu um porta-voz da polícia portuária, que começou por apontar para um balanço de quatro mortos e 340 sobreviventes.
Não se sabe ao certo quantas pessoas seguiam no barco, nem foi adiantado qualquer número oficial. Para além das estimativas da OIM, a televisão estatal ERT aponta para entre 500 e 700; a guarda costeira grega também não refere qual a proveniência da embarcação, afirmando apenas que “partiu da costa africana”, comentou o porta-voz Nikos Lagkadianos, citado pela Reuters.
A operação de salvamento envolveu dois patrulheiros, dois aviões e um helicóptero. O barco de madeira tinha 25 metros e foi assinalado por uma embarcação que estava de passagem, quando já estava meio afundado. A maioria dos sobreviventes (242) foram levados por um navio de carga para Itália, mas outros seguiram para o Egipto, Turquia e Malta, adiantou a guarda costeira.
Este acidente foi o terceiro numa semana a envolver resgates. Segundo a OIM, desde o início do ano morreram 2443 pessoas, mais 34% do que no ano passado, durante o mesmo período. “Os últimos oitos dias marcam um dos períodos mais mortais até agora da crise dos refugiados, que vai no seu quarto ano”, afirma a organização.
Desde Janeiro que 204 mil migrantes atravessaram o Mediterrâneo – mais do dobro dos 92 mil que chegaram à Europa nos primeiros cinco meses de 2015 (ano em que mais de um milhão fez a viagem), segundo a OIM.
No ano passado, centenas de milhares de refugiados, sobretudo sírios, partiram da Turquia para a Grécia, em pequenos barcos insufláveis sempre superlotados, para dali seguir para o Norte da Europa, atravessando os Balcãs. Mas depois de a UE ter chegado a acordo com a Turquia, para tentar deter o fluxo de pessoas que arriscam a vida no mar Egeu, que os controlos fronteiriços foram reforçados e a rota dos Balcãs encerrada, a 20 de Março.
Agora que o tempo está mais ameno, muitos arriscam atravessar o Mediterrâneo partindo da Líbia para a costa italiana, um percurso mais longo e mais perigoso.
Na sexta-feira foram encontrados em praias líbias pelo menos 104 corpos, informou um responsável do Crescente Vermelho no país. Entre as vítimas estão 40 mulheres e cinco crianças, que deverão ter morrido na quarta-feira, adiantou Mohammed al-Mosrati, porta-voz daquela organização. Os corpos deram à costa perto da cidade de Zuwara, da qual muitos barcos sem segurança partem rumo a Itália (sobretudo Sicília e Lampedusa), apinhados de migrantes.
O Guardian refere que os traficantes estão a aproveitar o caos político (há três governos paralelos na Líbia) e a ausência de legislação para expandir as suas actividades para rotas provenientes da África subsariana, com ajuda de milícias locais. E adianta que, segundo dados da UE, o contrabando de pessoas perfaz entre 30% e 50% do PIB no Noroeste do país.