Isabel dos Santos foi esta quinta-feira designada para presidir ao conselho de administração (não executivo) da petrolífera Sonangol, o maior grupo angolano e o mais internacional. A companhia estatal passará a contar com um modelo de governação com um chairman e um presidente-executivo (CEO). 

A indicação de Isabel dos Santos como novo rosto da Sonangol foi formalizada através de despacho presidencial, assinado pelo pai, José Eduardo dos Santos. 

A decisão, para além de significar que o Presidente mantém o controlo sobre o activo Sonangol, não é completamente inesperada pois Isabel dos Santos já estava a liderar a Comissão de Reestruturação da companhia petrolífera. E, nesse sentido, a nomeação pode expressar igualmente uma vontade das autoridades de levar por diante o plano de reorganização e de modernização da empresa. Foi isto mesmo que Isabel dos Santos veio garantir esta quinta-feira num curto comunicado onde manifesta intenção de “enfrentar com sucesso os grandes desafios que o novo contexto do sector petrolífero” coloca à Sonangol” e “tomar a iniciativa de encarar a mudança e marcar uma nova era”. 

Para assessorar Isabel dos Santos, foram escolhidos a Boston Consulting, a PwC e a VdA-Vieira de Almeida. O comunicado destaca como prioridades estratégicas “a preocupação com a redução dos custos, bem como o aumento dos lucros e da competitividade”. Sublinhe-se que a petrolífera é maior accionista do BCP, com cerca de 17%, posição que de acordo com o plano de reorganização ficará debaixo de uma sub-holding, que junta todos os activos financeiros, como o BAI-Banco Africano de Investimento e o banco que resultou do ex-BESA. 

Desconhece-se ainda qual será o destino destes investimentos e que efeitos vão ter no maior banco privado português as mudanças na cúpula da Sonangol. A petrolífera angolana é ainda accionista de referência e parceiro da Galp.   

Mas a escolha da empresária e filha do Presidente da República para chefiar a mais importante empresa pública angolana pode ter uma outra leitura: o seu poder de influência não sai apenas reforçado como é alargado. 

Em Angola, apesar de não ter uma presença directa no capital da Sonangol, que é estatal, Isabel dos Santos tem fortes interesses em sectores relevantes da economia africana, designadamente nas telecomunicações (Unitel) e na banca (BFA e BIC). Isto para além de investimentos no estrangeiro. 

Em Portugal, o seu principal activo é a sua posição na Galp. Tem investimentos na ZOPT (que tem a marca NOS em parceria com a Sonae, dona do PÚBLICO); é dona da Efacec; tem 47% do BIC Portugal e cerca de 20% do BPI, onde trava hoje uma guerra accionista com o grupo espanhol Caixa Bank. 

O primeiro-ministro português António Costa já admitiu facilitar a entrada de Isabel dos Santos no BCP, caso esta saia do BPI. Resta saber se a empresária tem vontade e disponibilidade e as autoridades regulatórias o permitem. Com Luís Villalobos