Polónia volta a tentar extraditar Polanski para os EUA
Governo polaco toma a iniciativa de reabrir processo que tenta entregar o cineasta à justiça norte-americana, 39 anos depois do caso de abuso sexual de uma menor.
O governo polaco reabriu o processo que visa a extradição do cineasta Roman Polanski para os Estados Unidos, para cumprir pena pelo caso de violação de menores julgado em 1977 – o realizador foi condenado, abandonou o país, pagou uma indemnização e pediu desculpas à sua vítima. A iniciativa de nova tentativa de extraditação é do próprio governo polaco.
O ministro da Justiça polaco, membro do governo conservador, explicou que decidiu “interpor um recurso junto do Supremo Tribunal da decisão em que o tribunal deliberou não extraditar Polanski para os EUA num caso em que é acusado e procurado por violação de uma criança”, disse Zbigniew Ziobrom, citado pela agência de notícias polaca PAP. O ministro é também procurador-geral da República e formalizou assim esta terça-feira a sua intenção de recorrer de uma decisão judicial de Outubro passado que negou a extradição do franco-polaco Polanski, revertendo assim a decisão dos procuradores locais, que tinham dito em Novembro não pretender contestar esse veredicto.
Para a defesa de Polanski, que embora viva a maior parte do tempo em França tem um apartamento em Cracóvia, a decisão do ministro não é uma surpresa. “Já o esperávamos”, confirmou um dos seus advogados, Jerzy Stachowicz, que não quis prestar mais declarações à agência AFP.
Tudo fica em aberto, judicialmente, quanto à decisão do Supremo perante este recurso – a decisão pode ser reiterada, anulada parcialmente ou voltar a ser julgada.
A 10 de Março de 1977, Samantha Geimer, de 13 anos, esteve em casa de Jack Nicholson numa sessão fotográfica para a edição francesa da revista Vogue. “Pensei: ‘Meu, agora vou ser famosa’”, recordava Samantha, citada pelo Los Angeles Times, em 2013, quando da publicação do seu livro sobre o tema. Polanski deu-lhe champanhe e um conhecido analgésico usado como estupefaciente, um Quaalude, e violou-a. Vários processos legais rodearam o caso e o cineasta chegou a apresentar-se como inocente. Acabaria por ser condenado a curta pena pelo crime de relações sexuais com uma menor (42 dias de prisão) mas fugiu dos EUA em 1978 antes de ser conhecida a sentença – pensava que a pena seria muito mais pesada. Em 1988, Samantha Geimer volta processá-lo, desta feita no tribunal cível. Dez anos depois, Polanski pagou-lhe uma indemnização de 225 mil dólares, e voltou a ser detido em 2009 na Suíça, ficando em prisão domiciliária durante meses até ser rejeitada a sua extradição para os EUA.
Polanski, recorda a Variety, tem planos de filmar na Polónia – sobre o caso Dreyfus – mas só se não correr o risco de extradição.