EUA e Rússia querem reforçar tréguas na Síria
Em Abril, morreram mais de 3100 pessoas em combates, segundo rede de observadores. Governo sírio e oposição devem regressar às negociações de Genebra, afirmam mediadores internacionais.
A Rússia e os Estados Unidos reconheceram que o actual regime de “cessação de hostilidades” na Síria se deparou com “dificuldades” no terreno e prometeram “melhorar e sustentar” as tréguas que vigoram desde o final de Fevereiro.
“Decidimos reafirmar o nosso compromisso em relação à cessação de hostilidades na Síria e intensificar os esforços para assegurar a sua implementação em todo o país”, lê-se numa declaração conjunta publicada no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
Os dois países, que co-lideram o Grupo de Apoio Internacional à Síria, admitem “dificuldades” no cumprimento das tréguas “em várias áreas do país”. Tem sido sobretudo em Alepo, a maior cidade do país, que os combates se têm concentrado. No último mês terão morrido mais de 3100 pessoas, incluindo 859 civis, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos – uma organização com sede em Londres, mas que tem uma rede de activistas no terreno.
Outro dos problemas identificados pelos dois países é o acesso de ajuda humanitária a áreas cercadas. “Todas as partes devem permitir o acesso humanitário imediato e sustentado para alcançar toda a gente necessitada (…) particularmente nas áreas cercadas e de difícil acesso”, apelam Washington e Moscovo.
As forças governamentais sírias têm sido acusadas pela ONU de privar centenas de milhares de pessoas de acesso a ajuda humanitária.
O regime de “cessação de hostilidades” foi declarado a 27 de Fevereiro, mas nem por isso as armas se calaram na Síria. O Exército é acusado de, sob o pretexto de combater grupos jihadistas (o autoproclamado Estado Islâmico e a Frente al-Nusra ficaram excluídos das tréguas), atacar grupos considerados moderados pelo Ocidente.
Apesar das falhas apontadas ao regime de tréguas, algumas áreas da Síria, como a capital Damasco, conheceram o período de maior acalmia na guerra civil que já dura há seis anos.
Os EUA e a Rússia reforçaram o compromisso de alcançar um “acordo político” para o conflito assente nas negociações de Genebra. Porém, não é mencionada qualquer data para uma nova ronda negocial. O último encontro terminou a 27 de Abril sem sucesso, após o abandono da mesa das conversações pelos representantes da oposição ao Presidente, Bashar al-Assad, em protesto contra a degradação da situação humanitária e as violações das tréguas.
Entretanto, foi alcançado um acordo para pôr fim ao motim na prisão de Hama, controlada pelo regime sírio, segundo reporta a BBC, que cita um membro de um partido de oposição. Na semana passada, cerca de 800 detidos, na sua maioria presos políticos, tomaram como reféns alguns guardas prisionais em protesto contra a transferência de um grupo de presos para outra instituição onde seriam alegadamente executados.
As forças de segurança tentaram retomar o controlo da prisão por duas vezes, mas falharam. O líder do Partido do Povo, Sheikh Nawwaf al-Melhem, disse à emissora britânica que o Governo sírio deu garantias de que os acusados em questão teriam direito a um julgamento justo.
Antes do acordo, as autoridades sírias cortaram o fornecimento de água e electricidade e alguns presos referiram ter escassez de comida. Durante as tentativas para retomar o controlo da prisão, 15 detidos terão ficado feridos, acrescenta a BBC.