Rússia diz que tréguas na Síria vão ser estendidas a Alepo
Ataque de forças rebeldes a bairros controlados pelo Governo de Damasco fizeram pelo menos 19 mortos. Embaixador francês na ONU diz que situação é comparável a Sarajevo durante Guerra dos Balcãs.
Os Estados Unidos e a Rússia estão a trabalhar junto da ONU para conseguir estender o actual cessar-fogo em vigor em algumas cidades sírias a Alepo "nas próximas horas", de acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.
O enviado especial da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, espera que, assim que as tréguas entrarem em vigor naquela que é a maior cidade do país, as negociações para um acordo de paz possam ser relançadas. "O propósito da minha visita aqui é a possibilidade de discutir com o poder russo a possibilidade de que os resultados já alcançados [para fazer entrar em vigor um cessar-fogo na Síria] possam vir a ser reduzidos a zero", avisou De Mistura, à saída de uma reunião com Lavrov em Moscovo.
Do seu lado, o chefe da diplomacia russa assegurou que "as discussões entre os militares russos e americanos terminam hoje com o anúncio de um cessar-fogo na cidade de Alepo". Porém, Lavrov sublinhou que as forças rebeldes, "que dependem do apoio ocidental", devem abandonar as áreas onde os grupos jihadistas, nomeadamente a Frente al-Nusra — o ramo da Al-Qaeda na Síria —, estão a ser bombardeados.
Desde o fim-de-semana que estão em vigor tréguas unilaterais do Exército sírio em Latakia e na região de Ghouta, em redor de Damasco. Apesar disso, combates perto de Damasco entre diferentes grupos rebeldes mataram pelo menos dez civis e dezenas de combatentes, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
Na quarta-feira, Berlim recebe uma reunião entre as diplomacias alemã e francesa, o emissário das Nações Unidas e o representante da oposição síria, Riad Hijab, com o objectivo de relançar as negociações de paz. "É necessário tudo fazer para que o cessar-fogo seja reposto. Cada dia que passa é perdido", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault.
Paris e Londres exigiram o agendamento de uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU para discutir a situação em Alepo, "uma cidade mártir", comparável a Sarajevo durante a Guerra dos Balcãs, disse o embaixador francês, François Delattre.
250 mortos em dez dias
Alepo tem assistido a um endurecimento do conflito entre o Exército sírio e os vários grupos rebeldes que controlam a maioria da cidade. Nos últimos dez dias foram mortas mais de 250 pessoas, de acordo com observadores no terreno, das quais dois terços estavam na zona controlada pelos rebeldes.
Pelo menos 19 pessoas foram mortas esta terça-feira em Alepo, num ataque de rebeldes contra um hospital na zona controlada pelo Governo de Damasco, segundo a televisão estatal e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
Segundo a televisão estatal, "dezenas de pessoas ficaram mortas e feridas" num ataque com rockets ao hospital Al Dabit. O centro médico, acrescentou o Observatório, ficou muito destruído.
A agência oficial Sana informou também que pelo menos seis civis morreram e 37 ficaram feridos em "ataques terroristas" — o termo usado por Damasco para se referir aos rebeldes — com rockets em bairros residenciais de Alepo. A direcção de saúde de Alepo é citada a dizer que a maior parte dos mortos e feridos são crianças e que o número de mortos pode aumentar.
O exército respondeu com uma vaga de ataques em grande escala contra a posição dos rebeldes. Alepo tem sido o centro de uma escalada militar que levou ao colapso das negociações de paz nas últimas semanas. O Governo de Damasco anunciou uma grande ofensiva para reconquistar a cidade — um dos principais jornais pró-regime, o Al-Watan, defendeu mesmo em editorial o lançamento da “batalha pela libertação completa” de Alepo.
A oposição armada controla o Leste de Alepo, mas está cercada pelas forças governamentais e a única ligação ao resto da cidade é feita por um corredor estreito.
Segundo uma fonte policial, citada pelo El País, caíram rockets nos bairros de Al Neel, Al Siryian, Al Jalidyia, Al Mukambu, Al Sabil e nos arredores da mesquita de Al Rahman. Há graves danos materiais.