Comparticipado novo medicamento para doentes renais com hepatite C

Nova terapêutica passa a estar disponível nos hospitais para doentes com insuficiência renal e co-infectados com VIH.

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Há um ano, José Carlos Saldanha pediu ao então ministro da Saúde que não o deixasse morrer DANIEL ROCHA

São cerca de 900 os doentes renais com hepatite C que vão passar a ter acesso facilitado a um medicamento inovador, depois de há mais de um ano o Ministério da Saúde ter assinado um acordo com um laboratório para financiamento de dois fármacos que já curaram mais de duas mil pessoas. A notícia foi avançada pela associação de doentes SOS Hepatites, que adiantou que, a partir desta segunda-feira, passou a ser comparticipado a 100% um novo medicamento para os infectados pelo vírus da hepatite C com insuficiência renal e co-infectados com VIH que, até à data, não tinham "uma terapêutica alternativa".

O Ministério da Saúde e a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) chegaram a acordo com a biofarmacêutica AbbVie, possibilitando assim a disponibilização gratuita do tratamento nos hospitais, anunciou a SOS Hepatites. A nova terapêutica já estava a ser fornecida a alguns doentes em hospitais públicos, mas através das chamadas autorizações de utilização especial (AUE), um processo que ficava mais caro e era demorado, explicou ao PÚBLICO Emília Rodrigues, presidente da associação.

O novo medicamento permitirá, assim, chegar a um subgrupo de doentes que ainda não dispunha de resposta, depois de o Estado português ter chegado em Fevereiro de 2015 a acordo com o laboratório Gilead, que desde essa altura fornece medicamentos inovadores para o tratamento da hepatite C. Segundo Emília Rodrigues, estas novas terapêuticas permitiram curar já mais de duas mil pessoas, do conjunto das mais de nove mil que estão em tratamento. "Há pessoas que se curam em 15 dias, mas é necessário esperar seis meses depois da conclusão do tratamento" para se declarar a cura, frisa.

Estas terapêuticas não servem, porém, para quem está a fazer hemodiálise e desde o início deste ano que o Infarmed tinha estabelecido um acordo de princípio com a AbbVie, mas o processo só agora foi concluído. O pagamento deverá ser feito através de uma linha de financiamento própria, à semelhança do que acontece com os fármacos da Gilead, pagando o Estado apenas pelos doentes curados. O acordo com a Gilead foi formalizado depois de meses de negociações que terminaram na sequência da intervenção, na Assembleia da República, de um doente que interrompeu a audição do então ministro da Saúde, pedindo-lhe que não o deixasse morrer.

As estimativas divulgadas na altura apontavam para a existência de cerca de 13 mil pessoas com hepatite C em Portugal, mas Emília Rodrigues acredita que o número será bem superior. A presidente da associação de doentes lembrou ainda que a terapêutica continua a evoluir e que há novos medicamentos a aguardar comparticipação estatal, estes dirigidos a doentes com um subtipo específico da doença, o genótipo 3 do vírus.

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