Obama quer Europa "forte, próspera e unida" para combater crise e terrorismo

"A Alemanha continua a ser “um dos mais próximos e fortes aliados” dos EUA, disse na véspera de um encontro com Angela Merkel.

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Manifestação em Hanôver contra o TTPI, que Obama e Merkel defendem Nigel Treblin/Reuters
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No Town Hall, Obama pediu aos jovens britânicos para procurarem compromissos Stefan Wermuth/Reuters

Quando Barak Obama esteve em Berlim em Julho de 2008, era então candidato à presidência americana, prometeu a uma multidão entusiástica e expectante que seria o melhor amigo da Europa. Agora que o seu segundo e último mandato está próximo do fim, o Presidente visita o continente realçando uma vez mais a importância das relações entre os dois lados do Atlântico. “Erguemo-nos e caímos juntos”, disse numa entrevista ao jornal alemão Bild.

“Não me cabe a mim dizer à Europa como deve gerir a Europa. O que eu posso dizer é que os Estados Unidos têm um grande interesse numa Europa forte, unida e democrática”, adiantou Obama, que inaugura no domingo, juntamente com a chanceler alemã, Angela Merkel, a feira industrial de Hanôver. “Aprendemos através de uma experiência dolorosa que as ameaças à Europa se tornam ameaças aos Estados Unidos. E quando a Europa é mais próspera, ajuda a alimentar a prosperidade na América. Erguemo-nos e caímos juntos”.

Na mesma entrevista, o Presidente americano salientou que os países europeus são necessários na luta contra o auto-proclamado Estado Islâmico e a Al-Qaeda, “que pode dar-se em qualquer lugar, desde a Síria e Iraque até ao Afeganistão”, na protecção da Ucrânia face à agressão russa, e na promoção de uma recuperação económica equilibrada em todo o mundo.

A Alemanha continua a ser “um dos mais próximos e fortes aliados” dos Estados Unidos, e um “parceiro indispensável” para a NATO e para a segurança e prosperidade mundial, realçou o Presidente. E sob a liderança da chanceler Angela Merkel, o país está a desempenhar “um papel ainda maior na política internacional”. Obama avançou com alguns exemplos: “Foi fundamental para impedir que o Irão obtivesse armas nucleares e no acordo de Paris sobre as alterações climáticas”. Mas também na resposta da União da Europa à agressão da Rússia contra a Ucrânia e no acolhimento “humanitário e seguro” de um elevado número de emigrantes.

A crise dos refugiados é o tema oficial do encontro de Obama com vários líderes europeus, na próxima segunda-feira. Para além de Merkel, estarão presentes em Hanôver o Presidente francês, François Hollande, e os primeiros-ministros britânico e italiano, David Cameron e Matteo Renzi.

Outro dos pontos da agenda alemã de Obama será certamente a Parceria Transatlântica para o Comércio e o Investimento (TTIP). Este sábado, cerca de 16 mil pessoas foram para as ruas de Hanôver para se manifestar contra o acordo que consideram ser “uma ofensa à sociedade civil” e “uma ameaça à democracia”, avança a AFP. Os opositores ao TTIP receiam que o acordo venha nivelar por baixo as normas sanitárias europeias e denunciam a possibilidade de as multinacionais poderem contestar as leis de um Estado perante uma arbitragem internacional.

Para Obama, este é “um dos melhores caminhos para promover o crescimento e criar emprego”, declarou ao Bild. Para Merkel, que apoia o TTIP, é importante manter as normas “que protegem o que actualmente se faz na Europa em matérias ambientais e de protecção dos consumidores”, ressalvou. Segundo um estudo do Centre for Economic Policy Research, o impacto deste acordo poderia atingir benefícios da ordem dos 119 mil milhões de euros por ano na economia europeia e 95 mil milhões na dos EUA.

A visita de Obama à feira de Hanôver foi requisitada três vezes por Merkel, assinala este sábado o Wall Street Journal, e é descrita por responsáveis americanos e alemães como um “sinal de quão longe a sua relação foi desde que a chegada [de Obama] à Casa Branca foi recebida por Merkel com um frio cepticismo”. O jornal escreve mesmo que a ligação entre Washington e Berlim é actualmente “a parceria estratégica mais importante do mundo”. E que sob vários aspectos, a ligação entre Obama e Merkel “reflecte uma das mudanças mais significativas na relação dos EUA com a Europa desde o fim da II Guerra”. “Obama virou-se mais vezes para a Alemanha do que para qualquer outro país europeu, como o Reino Unido”.

Ainda assim, durante a sua estadia em Londres, que começou na sexta-feira e termina no domingo, o Presidente Americano fez questão de apontar também para uma relação especial “inabalável” com o antigo aliado. O pretexto da visita foi a comemoração do 90º aniversário da rainha Isabel II, mas acabou por se tornar numa campanha “cuidadosamente orquestrada” para convencer os britânicos a favor da permanência na União Europeia no referendo de Junho, escreve a Economist.

Esta questão não foi levantada em nenhuma das dez perguntas a que Obama respondeu este sábado, num num town hall em Westminster com uma plateia jovem e etnicamente diversificada. Falou sim do compromisso entre os princípios que guiam a sua política e a forma de a pôr em prática. Obama referiu como a oposição no Congresso pode dificultar a aplicação das suas medidas, mas “temos que reconhecer que há quem discorde de nós sobre os meios para atingir esses princípios… Procurem as pessoas que não concordam convosco, isso ajuda a chegar a um compromisso. Um compromisso não significa render-se, mas perceber que as pessoas que discordam de nós também têm dignidade e valor”.

Respondendo a uma pergunta sobre as suas qualidades de liderança que o ajudaram a cumprir os dois mandatos, Obama brincou: “Uma pele dura. Também poderia falar das minhas fraquezas, mas não foi isso que me perguntou”. Depois, mais a sério, apontou: “Ajudar as outras pessoas a fazer coisas importantes. Não posso ser especial em tudo, mas posso juntar uma bela equipa… e dar-lhe as ferramentas para que possa fazer um óptimo trabalho. O papel de um líder não é conseguir que os outros façam o que ele quer, é fazer com que os outros façam o que querem”. Para além disso, é fundamental “traçar o caminho e unir a equipa à volta dele. Isso implica ouvir as pessoas”. E por fim, “sintetizar questões complicadas, juntando as pessoas à volta de uma mesa e ouvindo as diferentes perspectivas sobre o que são os problemas fundamentais”. Saber “identificar o problema” é essencial, afirmou.

Antes, lançou à plateia de mais de 500 pessoas: “Estou aqui para rejeitar a ideia de que estamos presos a forças que não podemos controlar. Quero que tenham uma visão mais abrangente e mais optimista da História”.

 

 

 

 

 

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