Só em três meses nasceram mais 1300 bebés. Natalidade continua a crescer
Depois de anos de quebras sucessivas, estão a nascer mais crianças em Portugal.
É oficial: os portugueses estão a ter mais bebés. Depois de quatro anos seguidos de quebras acentuadas da natalidade, que puseram os especialistas e os políticos a debater o problema e a estudar medidas para o resolver, em 2015 nasceram mais cerca de três mil crianças em Portugal do que no ano anterior e a tendência manteve-se de forma inequívoca nos três primeiros meses deste ano. Em apenas um trimestre, nasceram mais de 1300 crianças do que no mesmo período de 2015.
São dados do chamado teste do pezinho, os exames de rastreio efectuados a todos os recém-nascidos nos primeiros dias de vida e que constituem um indicador fiável da natalidade. Os recém-nascidos são estudados no âmbito do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa).
De acordo com os números da Unidade de Rastreio Neonatal do Departamento de Genética do Insa, em média terão nascido mais 14 bebés por dia, nos três primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2015. A explicação? “Os casais que foram adiando a intenção de ter filhos, alguns durante anos, estão agora finalmente a concretizá-la", responde Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia.
“Ao longo dos últimos anos, a tendência da natalidade tem sido de declínio mas sempre com oscilações. Resta saber se agora estamos a num período de oscilação ou já de recuperação. O que parece certo é que se reverteu a tendência para o decréscimo e isso é muito positivo”, frisa a especialista, que lembra que os anos foram passando e que se tornava difícil para muitas mulheres adiar mais o projecto de terem filhos. “Os portugueses querem ter filhos e querem ter pelo menos um”, acentua. Portugal, recorde-se, é o terceiro país da União Europeia com mais filhos únicos.
Crise condicionou casais
O que é certo, destaca Filomena Mendes, é que a crise económica e social condicionou de forma acentuada a natalidade. “Foram os anos mais negros para a fecundidade em Portugal. Além de o país ter perdido a capacidade de atrair imigrantes — que eram responsáveis por uma percentagem significativa dos nascimentos —, também perdeu muitas pessoas jovens devido à emigração”, explica. Pessoas que acabaram por ter filhos no estrangeiro.
"Também poderá haver aqui alguma antecipação de nascimentos em idades mais jovens, na faixa etária dos 20 anos, mas as estatísticas ainda não mostram isto de forma muito clara", considera. Um fenómeno que, caso persista nos próximos anos, poderá indicar que está a ocorrer “uma mudança de mentalidade”.
“As pessoas perceberam que já não vão ter um emprego para toda a vida. Não vão comprar uma casa, mas sim alugar uma. Então, por que irão adiar a maternidade?”, pergunta, acrescentado que "os pais e as mães estão a valorizar cada vez mais o tempo que dedicam aos filhos e a família".
Portugal também tinha, a este nível, batido no fundo. Para se ter uma ideia da dimensão da quebra da natalidade, nota Filomena Mendes, “só entre 2010 e 2013 perdemos 18% dos nascimentos”. Uma das características da baixa fecundidade está espelhada no adiamento do nascimento do primeiro filho, que em Portugal já acontece aos 30 anos, em média.
O que os dados do teste do pezinho do Insa permitem também perceber é que o processo de desertificação do interior continua: há distritos onde nascem menos de mil crianças por ano, como é o caso de Bragança, Portalegre e Guarda, e outros em que os nascimentos se ficam por pouco mais de mil por ano, nomeadamente Vila Real, Évora, Castelo Branco e Beja.
<_o3a_p>