O dia das lojas que vendem muito mais do que discos

Vendem discos, mas não apenas, também criam comunidade e redes de partilha. Este sábado assinala-se a 9.ª edição do Record Store Day, um dia para celebrar as lojas independentes de discos e a cultura do vinil.

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A Flur, em Lisboa, é uma das lojas portuguesas que assinala o Record Store Day Enric Vives-Rubio

Este sábado assinala-se a 9.ª edição do Record Store Day, um dia criado originalmente para celebrar as lojas independentes de discos e a cultura do vinil, embora os objectivos se tenham amplificado nos últimos anos e o acontecimento seja mais transversal hoje em dia com maior presença das multinacionais.

Mas o espírito original continua o mesmo. Trata-se de olhar para as lojas de discos independentes como algo mais do que comércio, como uma forma de criar também comunidade através de partilha, afectos ou ideias. Num tempo de aceleração e fragmentação, é uma forma de afirmar que a música está em estreita ligação com a maneira de pensarmos ou agirmos, desempenhando um papel importante na existência de muita gente.

Este ano os americanos Metallica foram escolhidos como embaixadores oficiais da iniciativa, pelo facto de terem decidido editar em exclusivo para este dia um álbum ao vivo que regista o concerto que deram na sala parisiense Bataclan há 13 anos, forma de prestarem tributo às vítimas dos ataques terroristas ocorridos na capital francesa em Novembro, e em especial naquela sala de concertos. As receitas da edição em vinil de Liberté, Egalité, Fraternité, Metallica! Live At Le Bataclan vão reverter para a campanha Give For France, da organização Foundation de France.

Mas essa é apenas uma entre milhares de edições especiais, e quase sempre limitadas, que assinalam a data, num espectro que pode ir de Purpose, o último álbum de Justin Bieber – que será vendido num picture disc, limitado a sete mil cópias – até Paddy On The Road, uma raridade clássica de Christy Moore, cujas edições originais rondam os 500 euros.

Tudo isto acontece na semana em que se ficou a saber que o mercado fonográfico mundial cresceu 3,2% em 2015, segundo dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica. De acordo com a federação, em 2015, as vendas digitais tornaram-se a principal fonte de receita (equivalente a 45% do mercado), superando, pela primeira vez, as vendas da música nos formatos físicos (que representa uma quota de 39% do mercado).

Mas isso não significa necessariamente o abrandamento da cultura do vinil, como se tem constatado também nas últimas semanas, com diversas notícias a darem conta do crescimento de vendas do formato vinil em dois dos mais influentes e reveladores mercados da música em todo o mundo – o britânico e o americano.

No mercado britânico as vendas de discos de vinil aumentaram 60% no primeiro trimestre deste ano, com destaque para Blackstar, o derradeiro álbum de David Bowie. No mercado norte-americano as vendas de discos de vinil, durante 2015, aumentaram 30% face ao ano anterior, perfazendo no total cerca de 12 milhões de discos vendidos. Alguns desses discos constituem novidades (de Adele a Taylor Swift) e outros correspondem a vendas de fundo de catálogo – dos Beatles a Miles Davis.

Em Portugal, como tem acontecido com assiduidade, várias lojas de discos, editoras e distribuidoras aderem à iniciativa, criando pequenos eventos, oferecendo descontos ou disponibilizando edições especiais. Em Lisboa, a Louie Louie, receberá o lançamento do álbum Sumba de Tó Trips e João Doce, enquanto na Carpet & Snares haverá sessões DJ (Zé Salvador, Mr Bird, Rui Miguel Abreu ou Jorge Caiado) e na Flur haverá actuações ao vivo (Sallim, Bleiden) ou uma instalação de André Gonçalves. Mas as celebrações alargam-se a algumas outras lojas de norte a sul do país.

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