O caso do amigo consultor
Diogo Lacerda Machado acabou por ser contratado pelo Governo, que vem representando em negociações importantes.
Foram três dias de questionamento constante ao primeiro-ministro: afinal, qual é o papel desempenhado por Diogo Lacerda Machado, advogado e amigo de António Costa, nas principais negociações do Estado? Os tiros visaram o coração do Governo, o próprio gabinete do chefe do executivo, mas foi o próprio primeiro-ministro a disponibilizar, involuntariamente, o alvo. Foi António Costa que, numa entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, contou que ia celebrar um contrato com o negociador que representou o Governo, a título informal, nas negociações com a TAP, com os lesados do BES e no caso BPI/Isabel dos Santos e, com isso, desencadeou o caso.
Nos dias seguintes, o nome de Diogo Lacerda Machado, secretário de Estado da Justiça quando António Costa foi o ministro responsável pela pasta, num Governo de António Guterres, não saiu das páginas dos jornais e das críticas dos partidos.
Os pedidos de justificações multiplicaram-se e não se ficaram apenas pela oposição. O PSD levantou o assunto a reboque da entrevista, exigindo conhecer o contrato e falando em falta de transparência, mas Bloco de Esquerda e PCP também se juntaram às exigências — os bloquistas chegaram a dizer que não queriam “ministros-sombra”.
E foi no mesmo dia em que os parceiros de esquerda que apoiam o executivo fizeram perguntas e exigiram saber mais, que António Costa emitiu um comunicado, escrito na primeira pessoa, a explicar os contornos do contrato. O primeiro-ministro agradeceu o trabalho de Diogo Lacerda Machado e contou que este terá um contrato de prestação de serviços para consultoria que lhe valerá um vencimento de dois mil euros brutos por mês. Ainda assim, o “negociador” está convocado para prestar esclarecimentos no Parlamento, no dia 27, na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas.