Cinco anos depois da inauguração, aeroporto de Beja continua a gerar expectativas
A ANA – Aeroportos de Portugal insiste em dizer que o polémico empreendimento “é uma infra-estrutura fundamental para o desenvolvimento de toda a região do Alentejo.”
Foi o turismo que Alqueva iria gerar em redor da sua albufeira a justificação maior para a instalação, em Beja, de um aeroporto que inicialmente seria intercontinental e agora está reduzido a uma estrutura de estacionamento de aeronaves, decorridos que vão cinco anos da sua abertura ao tráfego de passageiros.
A ANA – Aeroportos de Portugal divulgou nesta quarta-feira um comunicado sobre a efeméride, mas escusa-se a adiantar o número de passageiros que já terão circulado pelo aeroporto de Beja por considerar que a matéria “não é relevante”, mas o presidente da Câmara de Beja, João Rocha, deu ao PÚBLICO uma explicação mais concreta: “A cidade não tem camas hoteleiras em número suficiente para alojar os passageiros de um único avião”. Um Boeing 767-300, por exemplo, pode ir dos 205 aos 221 lugares.
Esta constatação já era patente quando o primeiro voo comercial descolou do novo aeroporto no meio de um fortíssimo aparato policial. Tanto a PSP como GNR procuraram, na circunstância, esgrimir argumentos para saber qual das forças ficaria a garantir a segurança da unidade aeroportuária. O certo é que estavam cerca de uma centena de militares da GNR e 50 agentes da PSP para protegerem os 67 passageiros que lotaram o Boeing 757-200ER, da companhia aérea TACV-Cabo Verde Airlines, que inaugurou os voos no novo aeroporto.
Desde então, o número de passageiros esteve sempre longe das previsões que constavam no documento Orientações Estratégicas para o Sistema Aeroportuário Português (OESAP) que propunha o “gradual” desenvolvimento do aeroporto de Beja. Nesse documento, datado de 2006, previa-se que, em 2015, a nova unidade aeroportuária poderia receber um milhão de passageiros. Não terá chegado, nestes cinco anos, aos 7000. No entanto, nos dois primeiros anos, foram processados no registo de chegadas e partidas 5044 passageiros, um movimento considerado “positivo” pela ANA, apesar de só prever volumes de tráfego “interessantes” a partir de 2017/2018, uma previsão que já está posta de lado.
Esses dois anos constituíram o período mais promissor para o novo aeroporto, pese o custo para a Agência de Promoção Turística do Alentejo que financiou com 400 mil euros uma operação charter (Londres/Beja) através da empresa inglesa Sunvil Discovery. Nos 22 voos realizados em quatro meses e meio, os lugares ocupados em cada voo ficou, em média, abaixo dos 50%. O resultado da experiência aconselhou que não fosse repetida e, desde então, o aeroporto de Beja é escolhido, sobretudo, para voos de executivos que vão caçar nas reservas de caça alentejanas.
No comunicado onde a ANA faz o balanço ao longo destes cinco anos de actividade, são realçadas as operações comerciais “exploratórias” entre esta empresa e entidades de turismo e operadores. Mesmo assim, e “apesar dos esforços efectuados”, reconhece a “diminuta procura por parte da aviação comercial”, facto que levou a “repensar a actividade” do aeroporto de Beja, que agora está a ser vocacionado para outro tipo de operação.
A alternativa passa a estar na manutenção e desmantelamento de aeronaves e no estacionamento de aeronaves de média-longa duração. Em média, ficam estacionados na placa do aeroporto de três a cinco aviões por semana e de duas companhias: a Hi Fly e EuroAtlantic.
Tal como em posições anteriormente assumidas, a ANA diz que “estão em curso contactos com outras companhias aéreas que poderão vir a apresentar resultados positivos no curto prazo”. Já se contam às dezenas o número de empresas que anunciaram a sua intenção de se localizar no aeroporto de Beja, mas nenhum dos projectos anunciados se concretizou.
Contudo, a ANA insiste que o aeroporto de Beja “é um investimento estratégico”, para a região e para o país, e que as iniciativas tomadas ao longo destes cinco anos “revelam a aposta da empresa na sua dinamização”, garantindo que a eficácia da estratégia “está comprovada”.
Entretanto o presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá, já anunciou que estão em fase de concretização para o seu concelho “apostas muito grandes na criação do cluster da aeronáutica, da defesa do espaço e na área das novas tecnologias, com investimentos na ordem dos 170 milhões de euros”.