Guterres quer mais mulheres a chefiar a ONU
Candidato português ao cargo de secretário-geral da ONU pretende "apresentar e implementar um plano para a paridade de género" dentro da organização.
Se for o próximo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres vai trabalhar para que a organização tenha mais mulheres com funções de chefia, tanto na máquina permanente como nos cargos de representação temporária de topo, escreve o antigo primeiro-ministro socialista no texto que entregou esta terça-feira à organização.
A ONU mudou radicalmente a forma como selecciona o secretário-geral e este ano, pela primeira vez em 70 anos, vai entrevistar candidatos. Os painéis de audições vão decorrer na sede, em Nova Iorque, na Sala do Conselho de Tutela, entre 12 e 14 de Abril, e vão ser transmitidos em directo. Cada sessão durará duas horas: dez minutos para uma intervenção inicial e o resto para perguntas dos embaixadores.
Tratando-se de uma estreia e de uma decisão desta importância, a expectativa é que todos os embaixadores dos quase 200 Estados-membros estejam na sala. Poderá haver inscrições para pedir a palavra, como é tradição em reuniões na ONU. E se todos quiserem fazer perguntas? Vão falar por regiões? Por continentes? “Como é a primeira vez, não sabemos bem como vai ser…”, diz um diplomata.
Os oito candidatos (quatro homens e quatro mulheres) tinham até esta terça-feira a tarefa de enviar um paper de 2000 palavras sobre a sua visão para as Nações Unidas.
É aí que Guterres defende que o próximo secretário-geral deve “apresentar e implementar um plano para a paridade do género” na organização. Segundo a UN Women, o braço para as questões do género, tem havido progressos nos níveis intermédios, mas nos cargos de direcção mantêm-se os níveis de representatividade: 26% são mulheres. Na função de Representante Especial, Enviado e Conselheiro há hoje 86 homens e 19 mulheres.
No paper, está ausente o tom incómodo que tem assumido como líder do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados — em particular por causa da crise dos refugiados —, e estão sobretudo presentes ideias de quem conhece bem a casa. Guterres defende reformas (encaradas como uma “atitude permanente” e não uma “acção isolada”); a criação de parcerias (com organizações regionais e instituições financeiras internacionais) e com a sociedade civil e o sector privado.
E propõe aquilo que será a sua principal ideia: a "centralidade da prevenção". O mundo gasta muito mais energia e recursos a gerir crises do que a evitá-las, explica. Para inverter as coisas, são precisas cinco mudanças: um “ímpeto na diplomacia para a paz”; tratar da paz como “um contínuo”; investir mais na construção de instituições onde elas não existem; combater o terrorismo e fomentar a inclusão e coesão multiétnica, cultural e religiosa.
Guterres defende que “a solução é sempre política” e acredita que é possível “juntar as pontas” do caos do mundo.