Catarina Martins quer saber números de emprego, Costa não os tem
Catarina Martins defendeu que “o emprego é o que está na cabeça de toda a gente” e para isso o país precisa de “investimento público e reformas”.
A porta-voz do Bloco de Esquerda deixou o desafio, mas o primeiro-ministro não tinha resposta para lhe dar: Catarina Martins questionou António Costa sobre as “metas líquidas de emprego” que o Governo consignará no Plano de Estabilidade. Na resposta, o chefe do Governo admitiu não ter um “número mágico do qual resulte uma forma de emprego”.
“Se o país não tiver e se o Governo não puder responder pela criação líquida de emprego, pelas reformas que apresentar, então o plano não serve a ninguém”, defendeu Catarina Martins na sua interpelação a António Costa, realçando que “o emprego é o que está na cabeça de toda a gente” e para isso o país precisa de “investimento público e reformas”.
“Se não tivermos emprego, este plano de reformas vale zero”, vincou a porta-voz bloquista, lembrando que na campanha eleitoral o PS tinha uma “previsão muito precisa de emprego de mais de 200 mil empregos em quatro anos”. E questionou: “Qual a projecção de emprego em que assenta o Plano Nacional de Reformas? (…) como se concretizam os projectos em números de emprego? Qual a meta líquida de emprego que estará no Plano de Estabilidade?”
Mas Costa não tem números – ou pelo menos prefere não entrar pelo caminho das promessas. “Não temos um número mágico do qual resulte uma forma de emprego. Temos um conjunto de políticas que visam criar emprego e do conjunto dessas políticas obteremos um resultado. Esse resultado será expresso no Plano de Estabilidade”, respondeu o primeiro-ministro. Defendeu que o PNR tem um conjunto de medidas “que visam efectivamente agir sobre o emprego, como o combate à precariedade, a reabilitação urbana, políticas de inovação, capitalização das empresas” e que “se traduzirão na criação líquida de emprego” – mas nada de metas específicas.
“Nós não fazemos o Plano Nacional de Reformas em função do Plano de Estabilidade, mas fazemos o Plano de Estabilidade como uma consequência do Plano Nacional de Reformas”, disse o primeiro-ministro, afirmando que esta quinta-feira o PNR será apresentado à concertação social.
"Catástrofe" na execução orçamental?
Antes, Catarina Martins quis saber se os últimos dados conhecidos confirmam que “há uma catástrofe na execução orçamental” devido às medidas aprovadas pela esquerda de devolução dos rendimentos e António Costa aproveitou para classificar como “boas notícias” os números divulgados pelo INE e pela Direcção-Geral do Orçamento.
“Depois de cinco meses em queda, o clima económico recuperou em Fevereiro e Março depois da aprovação das normas do orçamento, assim como melhorou a confiança dos consumidores”, disse o primeiro-ministro, acrescentando que os dados da execução orçamental disponíveis mostram que o Governo “está a cumprir” as metas fixadas.
Vincando que o orçamento prevê pouco investimento público e que esse é um instrumento fundamental para ajudar a criar emprego, a bloquista quis saber se o Governo “pondera aumentar o investimento público de modo a estimular a economia ou se só interessa o [cumprimento] do défice”.
“A pergunta até parece combinada porque sabe antecipadamente a resposta”, gracejou o primeiro-ministro. “Temos de reforçar o investimento – o público e o privado”, respondeu salientando, porém, ser preciso “seleccionar entre o bom e o mau investimento”. E para isso o PNR deve funcionar como uma “grelha estratégica de opções”.