Condutor da carrinha do acidente em França em unidade psiquiátrica

Autoridades francesas investigam os destroços do veículo, para apurar se foi adaptado artesanalmente com cadeiras improvisadas.

Foto
O acidente aconteceu na estrada nacional 79, no centro de França THIERRY ZOCCOLAN/AFP

O condutor da carrinha envolvida no acidente de quinta-feira à noite que provocou a morte de 12 portugueses, numa estrada no centro de França, está hospitalizado numa unidade psiquiátrica e ainda não foi ouvido pelas autoridades, fez saber neste sábado o Ministério Público de Moulins, no município de Allier.

O português de 19 anos sofreu uma fractura num pulso e é o único sobrevivente entre os ocupantes do veículo envolvido no acidente, que ocorreu por volta das 23h45 de quinta-feira na estrada nacional 79, na localidade de Moulins. Em estado de choque, o jovem foi admitido inicialmente nas urgências psiquiátricas de Moulins, tendo ainda na sexta-feira sido transferido, por "alguns dias", para outra unidade psiquiátrica da zona, explicou, em declarações à agência noticiosa AFP, o procurador de Moulins, Pierre Gagnoud.

Tendo em conta as circunstâncias, o jovem não deve ser ouvido pelas autoridades antes "do início da próxima semana", indicou também o magistrado. As autoridades francesas não revelaram a localização da unidade psiquiátrica. Um outro homem, que "poderá ser o presumível proprietário da carrinha" e que estava a fazer o mesmo trajecto do veículo acidentado mas noutro carro, também foi internado na mesma unidade psiquiátrica devido "a um choque psicológico", acrescentou Pierre Gagnoud.

A carrinha que seguiam os portugueses saiu da Suíça por volta das 21h de quinta-feira e teria como destino a Portugal. Com idades entre os sete e os 63 anos, as vítimas morreram na sequência de um choque frontal com um veículo pesado. A carrinha modelo Mercedes Sprinter desviou-se para a faixa contrária e colidiu de frente com o camião. O veículo "não era um pequeno autocarro e não é adequado, por natureza, para o transporte colectivo", recordou o procurador, confirmando que os investigadores vão "reconstruir a carrinha a partir dos destroços" para tentar determinar "se tinha sido construída especificamente para o transporte de pessoas", o que parece "pouco provável", precisou Pierre Gagnoud.

A outra hipótese é tratar-se "de uma adaptação artesanal, totalmente inadequada, com cadeiras dobráveis e com os passageiros sentados na parte de trás em assentos improvisados", detalhou o magistrado.

O motorista italiano do veículo pesado envolvido no acidente já teve alta do hospital e foi ouvido na sexta-feira pelas autoridades francesas. O outro homem que seguia no camião foi operado a um pulso e deverá ser ouvido durante o dia de hoje, segundo informou ainda o procurador.

Apoio às famílias

Alguns familiares das vítimas começaram a chegar na sexta-feira a Moulins, onde foi disponibilizada uma unidade de apoio médico e psicológico. Ffizeram o reconhecimento dos corpos, o que na noite de sexta-feira tinha acontecido em relação a 11 das 12 vítimas, segundo as informações prestadas pelo Conselheiro das Comunidades Portuguesas em Lyon, Manuel Cardia Lima.

“A maioria das famílias passou por Moulins. Foram reservados [pelas autoridades francesas] dois hotéis para as famílias, mas muito poucas ficaram hospedadas, porque a maior parte regressou à Suíça e outros foram directamente para Portugal”, adiantou aquele responsável.

Os corpos das 12 vítimas mortais deverão ser transportados para Portugal numa operação conjunta. A transladação ainda não tem data marcada, mas já é certo que só acontecerá depois do domingo de Páscoa. Fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros admite que o transporte possa não acontecer antes de terça-feira.

O Governo disponibilizou meios para ser o Estado português a assegurar a transladação, em cooperação com as autoridades francesas, e está em contacto com os familiares para organizar a operação, caso seja essa a vontade das famílias. Como ainda há diligências em curso em França, o transporte só deverá ser feito depois da Páscoa.

Ouvido no local pela TVI, um responsável do município de Allier explicou que “ainda há procedimentos administrativos a realizar” e também não deu como certa uma data. “Se possível, na segunda-feira [que é feriado em França] ou terça-feira”, referiu. “Os corpos das vítimas estão no hospital de Moulins. Estamos a trabalhar com as autoridades portuguesas e nomeadamente com a cônsul de Portugal em Lyon, para organizar o repatriamento dos corpos”, frisou.

O ministro dos Transportes francês, Alain Vidalies, pediu entretanto prudência nas declarações feitas sobre o acidente, nomeadamente sobre as condições da via onde se deu o acidente. A N79 é uma das estradas nacionais que compõem a Estrada Centro Europa Atlântico, um itinerário que atravessa a França de Leste a Oeste e que é conhecido como a "estrada da morte".

"As condições exactas do acidente não foram determinadas. As informações que disponho apelam à prudência sobre o papel da estrada. Existem perguntas legítimas sobre o veículo utilizado", afirmou Alain Vidalies, em declarações à emissora RTL.