A conturbada novela sobre o futuro do Yahoo, uma estrela dos primeiros tempos da Web e que está há anos em queda, teve esta semana um novo episódio: um fundo que tem uma participação na empresa decidiu apresentar aos restantes accionistas um conselho de administração alternativo com o objectivo de derrubar a actual equipa na assembleia geral que deverá ter lugar dentro de poucos meses.

O fundo Starboard Value, que tem cerca de 1,7% do Yahoo (que tem uma grande dispersão do capital, com o maior accionista institucional a ficar aquém dos 6%), tem estado em negociações com os administradores, mas a falta de entendimento levou a que publicasse uma carta em que tece críticas ácidas à gestão da empresa e apela aos accionistas a que se juntem para uma mudança de rumo.

“Temos estado extremamente desapontados com o triste desempenho financeiro do Yahoo, com a fraca execução de gestão, com as práticas remuneratórias e de contratação escandalosas”, acusa o documento. “Acreditamos que o conselho de administração claramente tem a falta de liderança, objectividade e perspectiva necessárias para tomar decisões que sejam no melhor interesse dos accionistas”, refere ainda o fundo, que apresentou uma equipa de nove pessoas que proporá para novos administradores e que inclui executivos com experiência na banca, em tecnologia e na televisão.

Nascido em meados da década de 1990, e durante anos um ícone da Web, o Yahoo foi sendo ultrapassado por gigantes online como o Google e o Facebook. Embora sejam produtos distintos, todos competem por dinheiro de anunciantes e tempo de atenção dos utilizadores. A empresa sofreu várias crises de identidade, oscilando entre ser um criador de produtos tecnológicos (como motores de pesquisa, ferramentas de publicação online e aplicações) ou de conteúdos digitais.

A contratação da actual presidente executiva ao Google, feita há quase quatro anos, acabou por não dar frutos. Marissa Mayer começou por ser retratada – incluindo nos mais prestigiados títulos da imprensa americana – como a jovem gestora que levaria o Yahoo de regresso aos bons velhos tempos. Uma das primeiras contratações de Mayer foi o português Henrique de Castro, um ex-colega do Google, que acabaria por ser despedido menos de ano e meio depois. A queda de Mayer foi rápida, com aquisições que se revelaram más apostas, resultados financeiros que – apesar dos lucros –  têm desiludido os investidores e muitas queixas por parte de funcionários que acabaram por vir a lume nos media. O Yahoo foi perdendo quota de mercado publicitário e as receitas caíram, mas os vários serviços continuam a ter centenas de milhões de utilizadores e a ser populares, sobretudo nos EUA, onde é uma marca muito mais conhecida do que na Europa.

O fundo Starboard Value diz agora estar preocupado com a forma como vai ser gerida uma das mais recentes opções estratégicas do Yahoo e que, a concretizar-se, vai transformá-lo numa empresa diferente. O plano é separar (eventualmente, através de uma venda) os principais negócios do Yahoo – o que inclui o portal e os respectivos conteúdos, o motor de pesquisa e o email – e ficar essencialmente com a participação de 16% que tem na Alibaba, a gigante chinesa de vendas online, e no Yahoo Japão, uma empresa autónoma, de que o Yahoo tem 36% . A participação no Alibaba é considerada hoje o maior activo da multinacional americana.