Montepio agrava prejuízos em 2015 para 243 milhões
Banco aumenta capital em 300 milhões, subscritos pela Associação Mutualista.
A Caixa Económica Montepio Geral obteve prejuízos de 243,4 milhões de euros no ano passado, acima dos cerca de 187 milhões de perdas em 2014, de acordo com os dados divulgados ontem pela instituição liderada por José Félix Morgado.
A instituição financeira justifica o agravamento dos prejuízos por ter tido menos resultados com as operações financeiras (138,7 milhões de 2015, abaixo dos 352,2 milhões de 2014), sobretudo devido às menores mais-valias com a dívida pública, depois de em 2014 terem sido vendidos muitos desses títulos. Com menos operações extraordinárias ao negócio corrente, o Montepio assistiu assim a um agravamento dos prejuízos. Este foi o único caso entre os principais bancos a operar em Portugal, já que mesmo a Caixa Geral de Depósitos, que também registou resultados líquidos negativos, conseguiu melhorar as contas entre 2014 e 2015.
As três operações internacionais foram lucrativas, mas a mais importante, o Finibanco Angola (onde o Montepio tem ainda por concluir uma redução da participação), desceu os lucros de 12,8 para 9,1 milhões. O resultado é justificado com a subida dos gastos operacionais e com o reforço das imparidades para crédito (que subiram 9,6% no período em análise). Já o Banco Terra, de Moçambique, gerou um resultado líquido de 0,1 milhões, e a operação de Cabo Verde deu um contributo de 1,2 milhões.
Sobre a concessão de crédito, este desceu 4%, para 15.944 milhões de euros, no ano passado, com o banco a explicar a contracção dos empréstimos para compra de habitação, para construção e mesmo ao sector social. Já o crédito a empresas, excluindo a construção, caiu mais ligeiramente, 1%.
Quanto aos depósitos de clientes, esses diminuíram 9% entre 2014 e 2015, para 12.956 milhões. Ainda assim, o Montepio destaca que no último trimestre do ano os depósitos aumentaram 3,3% face ao período anterior (sem especificar qual o peso dos particulares e das empresas). O “enfoque na dinâmica comercial” foi o que permitiu à instituição “retomar o crescimento dos depósitos dos clientes”.
Ainda em 2015, a margem financeira do Montepio foi de 227,4 milhões de euros, abaixo dos 336,5 milhões de 2014, e o rendimento de serviços e comissões ficou praticamente estabilizado (-0,5%), em 135,1 milhões. Quanto ao produto bancário, este diminuiu 42%, para 454,9 milhões. No ano passado, o Montepio reduziu as imparidades para crédito em 50%. No entanto, essas ainda representaram 258,4 milhões de euros, o que pesou nos resultados,
Ao nível do capital, foi aprovado o reforço em 300 milhões de euros. Este será feito por duas vias: 270 milhões de euros em numerário, ali colocado pela Montepio Geral Associação Mutualista, que ainda adquirir 31,5 milhões de euros em unidades de participação próprias do Fundo de Participação (FP), que são detidas pelo Montepio Investimento. De acordo com o comunicado enviado ao regulador do mercado de capitais, a CMVM, "será submetido à consideração dos detentores de unidades de participação do FP a possibilidade de manutenção da proporcionalidade dos seus direitos patrimoniais".
Félix Morgado, que substituiu Tomás Correia no Verão passado, disse à Lusa que a operação de reforço dos fundos próprios tem como objectivo "sustentar o crescimento do produto bancário", um dos objectivos estratégicos para este ano que a equipa directiva quer que seja feito através de um reforço do negócio, nomeadamente do aumento da concessão de crédito a Pequenas e Médias Empresas (PME) e a empresários individuais.
Questionado sobre uma abertura do capital da Caixa Económica Montepio Geral, fazendo com que outros investidores sejam titulares de participações, e não só a Associação Mutualista, Félix Morgado admitiu que poderá colocar-se esse tema no futuro.
"É um tema que se poderá pôr pelo accionista quando for entendido como oportuno, mas sempre para accionistas que permitam assegurar o perfil que o Montepio tem de banco português virado para economia social", disse.