Marcelo quer “recriar convergências” e “cicatrizar feridas”
Novo Presidente da República tomou posse na sala das sessões.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que urge “recriar das convergências”, “redescobrir dos diálogos” e considerou ser necessário “cicatrizar feridas” deixadas pelos “longos sacrifícios”. No primeiro discurso na Assembleia da República, logo após o juramento da Constituição, Marcelo Rebelo de Sousa quis deixar uma mensagem de valorização do amor-próprio dos portugueses. A intervenção mereceu uma ovação de pé das bancadas do PS, PSD e CDS, bem como dos convidados. Ficaram sentados os deputados do PCP, BE e PEV, que não aplaudiram.
O chefe de Estado empossado na manhã desta quarta-feira começou por justificar o motivo que levou à sua candidatura e depois à sua eleição. “Portugal é a razão de ser do compromisso que acabo de assumir”, disse perante os deputados e muitos convidados na sala das sessões.
Apelando à necessidade de “sair do clima de crise” em que Portugal viveu “desde o início do século”, o Presidente referiu-se depois a um período mais recente da História. “Temos de cicatrizar feridas destes tão longos sacrifícios, no fragilizar do tecido social, na perda de consensos de regime, na divisão de hemisférios políticos”, disse, repetindo a mensagem de pacificação que deixou na campanha eleitoral. E considerou essa ruptura “indesejável precisamente em anos em que urge recriar convergências, redescobrir diálogos, refazer entendimentos”.
O discurso de Marcelo na íntegra
O Presidente traçou as linhas para os próximos cinco anos de mandato. “Esperam-nos cinco anos de busca de unidade, de pacificação, de reforçada coesão nacional, de encontro complexo entre a democracia e a internacionalização estratégica dentro e fora de fronteiras e entre crescimento, emprego e justiça social de um lado, e viabilidade financeira do outro”, disse.
Assumindo-se como o “Presidente de todos sem excepção”, Marcelo adiantou como será o seu desempenho: “Um Presidente que não é nem a favor nem contra ninguém. Assim será politicamente, do princípio ao fim do seu mandato.”
Depois de assegurar “solidariedade institucional indefectível” ao presidente da Assembleia da República, Marcelo comprometeu-se em ser “um guardião permanente e escrupuloso da Constituição e dos seus valores”. Mais à frente no discurso, o chefe de Estado referiu as balizas constitucionais e declarou que agirá “sem querer ser mais” do que a lei fundamental permite, mas “sem aceitar menos do que a Constituição impõe”.
Citando Miguel Torga, Marcelo Rebelo de Sousa disse: “Essencial é que continuamos a minimizar o que valemos [e,] no entanto [,] valemos muito mais do que pensamos ou dizemos.”
Referindo os anteriores Presidentes da República – Ramalho Eanes, Mário Soares (este não esteve presente) e Jorge Sampaio –, Marcelo agradeceu a Cavaco Silva, sentado ao lado de Ferro Rodrigues. Lembrou a década na chefia de governo e a década na chefia do Estado, para dizer que é “dever de justiça” e “independentemente dos juízos de vivência política” deixar “uma palavra de gratidão pelo empenho na defesa do interesse nacional” ao ex-chefe de Estado, observando que sacrificou “vida pessoal, académica e profissional em indesmentível dedicação ao bem comum”. As palavras mereceram palmas apenas das bancadas do PSD e do CDS.
O novo Presidente referiu-se ainda directamente ao Rei de Espanha, Filipe VI, ao Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e ao presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, como seus convidados pessoais e “correspondentes a coordenadas essenciais da política externa”.