Euribor a 12 meses regista a sua primeira média mensal negativa

Expectativa de novas medidas do BCE continua a agravar queda das taxas utilizadas nos empréstimos à habitação.

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O reduzido impacto da descida da taxa de juro na prestação mensal é explicado pelo aumento da componente de amortização Manuel Roberto

As taxas de juro associadas ao crédito à habitação voltaram a acentuar a queda em Fevereiro, com a Euribor a 12 meses a registar a primeira média mensal negativa, em -0,00786.

A Euribor a 12 meses é pouco utilizada nos empréstimos à habitação, não chegando a 3% do total dos contratos, mas passou a ser o prazo mais utilizado pelos bancos nos créditos mais recentes, de forma a fugir aos valores negativos dos restantes prazos. Mas trata-se de um prazo muito utilizado nos empréstimos às empresas.

Com a evolução negativa dos três prazos, os bancos não têm outra alternativa que não seja a de garantir através do aumento do spread (margem comercial do banco) a rentabilização dos novos empréstimos, uma vez que o Banco de Portugal os obrigou a reflectir os valores negativos do indexante na taxa final.

Na prática, como já aconteceu em 2015, os bancos terão de continuar a suportar uma parte dos juros da quase totalidade dos empréstimos, uma vez que, em Portugal, é muito reduzido o número de créditos com taxa fixa.

A Euribor a três meses, negativa desde 21 de Abril do ano passado, fixou-se em - 0,184%(valor arredondado à milésima) em Fevereiro. A Euribor a seis meses fixou-se em - 0,115%, tendo entrado em valor negativo desde 6 de Novembro. Estes valores, bem com o de 12 meses, que se estreou abaixo de zero apenas em Fevereiro, servem de base aos empréstimos com revisão de taxa a ocorrer em Março.

Face à última revisão, um empréstimo de 150 mil euros, com a Euribor a três meses, a 30 anos, e com um spread (margem comercial fixada pelo banco em função do risco do clientes) de 0,7%, vai passar a pagar após a revisão de Março uma prestação de 449,84 euros, menos quatro euros face à revisão ocorrida há três meses.

A mesma simulação para um empréstimo associado à Euribor a seis meses vai permitir uma redução na prestação de 10 euros e com o prazo de 12 meses, cuja última revisão aconteceu há um ano, a redução é de 14,89 euros.

O reduzido impacto da descida da taxa de juro na prestação mensal é explicado pelo aumento da componente de amortização. Na prática, o montante de amortização sobe quando o custo com juros desce, o que tem vantagens a prazo porque acelera a redução da dívida.

A queda da Euribor é positiva para as famílias e empresas com empréstimos associados a estas taxas, mas é negativa para quem tem poupanças associadas a este indexante, como os Certificados de Aforro e depósitos bancários. A rentabilidade da maioria dos depósitos a prazo tem como referência as taxas do crédito e isso explica que a remuneração de muitas aplicações nos bancos seja muito reduzida ou mesmo de zero.

O comportamento das taxas Euribor é explicado pela política monetária do BCE, que tem a sua taxa directora encostada a zero (e colocou em valores negativos os depósitos dos bancos na instituição).

Outro dos factores a influenciar esta descida continua a ser o baixo crescimento da zona euro e o baixo nível da inflação, que de acordo com a primeira estimativa do Eurostat divulgada esta segunda-feira deverá ter ficado em terreno negativo em Fevereiro, chegando aos - 0,2%.

As Euribor são fixadas pela média das taxas de juro a que um conjunto de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário.

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