Festival Trojan Horse fica em Portugal e duplica orçamento com apoios públicos
Evento de artes digitais que reúne grandes nomes dos bastidores do cinema e jogos volta a Tróia com apoio do Governo e da autarquia de Setúbal.
O festival de artes digitais Trojan Horse was an Unicorn (THU) vai permanecer em Portugal e em Tróia por mais um ano. Em 2015, a organização ameaçou abandonar o país por falta de apoios, mas através do novo Governo e da Câmara de Setúbal foi encontrada a solução que manterá o evento internacional em Portugal com uma parcela de apoios públicos de cerca de 120 mil euros. A edição deste ano já está esgotada.
O THU realiza-se há três anos em Portugal e reúne dezenas de criativos do entretenimento digital - dos videojogos ao cinema passando pela animação – e não só, para conferências, workshops e formações a centenas de participantes vindos de todo o mundo. A organização é agora uma entidade “sem fins lucrativos”, encabeçada por André Lourenço e pelo produtor de Hollywood Scott Ross – até aqui o embaixador do evento e o seu rosto internacional -, como explicou ao PÚBLICO o produtor português. O THU fica em Tróia “mais um ano” e com um orçamento duplicado em relação a 2015 – 1,2 milhões de euros, dos quais “Portugal vai ajudar em cerca de 10%”.
Em 2015, André Lourenço disse ao PÚBLICO: “É certo, vamos sair de Portugal. Para nós, Portugal morreu”. Críticas à falta de sensibilidade para a importância do festival por parte das autarquias ou do Turismo de Portugal, demoras ou ausência de resposta nos pedidos de reuniões, apoios escassos. É o que ia contando em relatos temperados com a história que exemplificava essa falta de sintonia entre a dimensão do evento e a abordagem das autarquias - a Câmara de Grândola deu como único apoio para o 3.º THU “um porco” para um churrasco, disse.
Em Janeiro, quando o evento “esgotou em apenas uma semana os bilhetes” (600 já vendidos) para a sua 4.ª edição sem ter ainda localização confirmada nem cartaz, André Lourenço foi contactado pelo secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, na sequência de uma notícia do Jornal de Negócios sobre a saída iminente do THU de Portugal. Seguiram-se conversas com a secretária de Estado do Turismo, Ana Godinho, e com a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira (PCP).
André Lourenço diz que “ainda não está definido” como se distribuirão os apoios públicos – mas que incluirão viagens e estadias dos conferencistas convidados – e frisa que faz parte do projecto do novo THU que “as receitas não vão ser distribuídas pelos sócios, mas reinvestidas na comunidade”. Uma das áreas de acção previstas do novo THU é a constituição de um “playground”, diz André Lourenço, “uma incubadora para desenvolvimento de projectos” que irá “financiar produções de artistas”.
“O THU vai mudar muito, passar a ser um festival de criação pura”, mais focado na “passagem das ideias para o papel” e de projectos do que no aspecto mais técnico, diz o organizador. Vêm mais escritores, guionistas, produtores, enumera. “O mundo está a precisar de conteúdos”.
Pelo THU já passaram nomes como o de Syd Mead, concept designer de Blade Runner – Perigo Iminente, Shane Mahan, autor do rosto do Exterminador Implacável ou do T-Rex de Parque Jurássico, ou ainda Paul Briggs, coordenador de sucessos da Disney como Frozen – O Reino do Gelo ou Big Hero 6. Os participantes, que este ano pagaram 600 euros mais IVA, têm vindo sobretudo da Alemanha, EUA, Polónia e Inglaterra (apenas 13%, em média, vêm de Portugal), para cinco dias de evento, que este ano decorre de 18 a 24 de Setembro. A média de idades em 2015 era 29 anos e eram sobretudo 3D artists, concept artists e animadores.
A conferência dos profissionais que aparecem no fim dos créditos dos filmes e dos videojogos teve no ano passado uma secção de recrutamento de algumas das maiores empresas do sector, Disney incluída. O plano para 2016 é que esses parceiros, e outros, estejam presentes – haverá bilhetes à parte, mais acessíveis, para a feira de recrutamento.