Há mais mulheres protagonistas de grandes filmes – mulheres brancas
Mad Max, Hunger Games, Star Wars, Cinquenta Sombras ou Descarrilada: em 2015 houve mais filmes de sucesso com mulheres nos papéis principais. Mas quanto menos branca, menos tempo de antena, revela estudo.
“Os números estão decididamente a ir na direcção certa” é uma frase que Martha M. Lauzen, responsável pelo estudo anual que contabiliza o número de actrizes com papéis nos filmes mais vistos dos EUA, não diz muitas vezes. Mas em 2015, segundo o Center for the Study of Women in Television and Film, houve mais 10% de protagonistas no feminino do que em 2014. Contudo, e como denota anualmente o estudo mas este ano está a ser mais notado, as actrizes negras, asiáticas ou hispânicas não têm números tão positivos.
Em 2015, o ano de Charlize Theron em Mad Max: Estrada da Fúria, de Jennifer Lawrence no final de Hunger Games, de Daisy Ridley em Star Wars: Despertar da Força ou de Amy Schumer ser Descarrilada, as actrizes tiveram 22% dos papéis principais nos 110 filmes mais rentáveis – uma melhoria em relação aos 12% de 2014, “um ano excepcionalmente mau”, como escreve Lauzen no relatório. Desdobrando as contas para papéis de personagens mais relevantes e personagens com falas, as actrizes conseguiram 34% e 33%, respectivamente, desses lugares em 2015.
Um ano de recuperação nas bilheteiras dos EUA – e de Portugal, que em 2015 conseguiu 14,5 milhões de espectadores, mais 20% do que em 2014 – e que teve muitos filmes protagonizados por mulheres entre os mais vistos – no top 10 português estão As Cinquenta Sombras de Grey, Star Wars e Hunger Games; nos EUA repetem-se os dois últimos blockbusters nos dez mais vistos, entrando ainda em cena Cinderella.
Os dados sobre o protagonismo das actrizes são números historicamente elevados – só em 2002 se tinha registado uma proporção aproximadamente tão alta, 18% de protagonistas mulheres nos filmes mais populares. “Não é claro se 2015 foi uma espécie de anomalia ou se isto é o princípio de uma tendência mais a longo-prazo”, diz Lauzen, citada pela Variety.
Contudo, estes números em crescimento são ainda profundamente deficitários. Significam que, em 110 filmes, 78% dos papéis mais importantes foram para homens. E a análise do Centro mostra que as histórias se preocupavam mais em identificar a profissão ou mostrar o seu exercício no caso de uma personagem masculina do que no de uma feminina, proporção que se inverte no que toca ao estado civil das personagens de mulheres, mais relevante do que nos papéis de homens.
A outra nuance negativa que permanece quase inalterada tem a ver com as percentagens de mulheres não brancas a trabalhar como actrizes nestes filmes e, assinala a responsável pelo estudo e pelo centro da Universidade de San Diego que o organiza, com o facto de “as mulheres não brancas terem menos probabilidade do que as brancas de serem personagens principais”. Do universo analisado, 27% das actrizes negras, latinas, asiáticas ou de outras etnias que não a caucasiana tiveram papéis importantes, sendo que entre as brancas essa percentagem sobe para os 38%.
Estes dados vêm engrossar a polémica em torno da diversidade racial – ou falta dela – em Hollywood, o mais importante mercado cinematográfico do mundo, e corroborar que entre as mulheres que trabalham na indústria existe um padrão de subrepresentação também na alínea étnica. Em cem filmes norte-americanos, houve 13% personagens de mulheres negras, 4% de mulheres latinas e 3% de mulheres asiáticas.
Como já vem sendo evidenciado por estes estudos e pelos seus congéneres europeus, quando as equipas responsáveis pelos filmes são encabeçadas por mulheres, os projectos tendem a empregar mais mulheres. Em 2015, 9% dos filmes mais rentáveis foram liderados por uma realizadora (um aumento de 2% em relação a 2014) e nos filmes com uma mulher realizadora e/ou argumentista o projecto tende a ser equilibrado, com 50% de mulheres protagonistas – num filme dirigido por profissionais masculinos a percentagem de actrizes com papel principal é de 13%.