Se o Estado ficar com a TAP, gestores devem ser demitidos, exige Rui Moreira

"Os sucessivos governos têm permitido uma gestão da TAP que, objectivamente, não interessa à diáspora, aos emigrantes e ao Porto", disse o autarca.

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A TAP continua debaixo de fogo do presidente da Câmara do Porto Manuel Roberto

O presidente da Câmara do Porto considera que se o Governo, como pretende, conseguir manter a TAP na esfera pública, a actual equipa liderada por Fernando Pinto deve ser demitida. O autarca, que tem sido ponta-de-lança de um “levantamento” contra o cancelamento de rotas da companhia no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, acusou esta gestão de ter “dado cabo do negócio do Brasil” e de ser o responsável pelo abandono da infra-estrutura nortenha que, insiste, não é de agora, mas dura já há 12 anos.

“Se a TAP se mantiver como operadora privada, temos de encontrar alternativas para as rotas que deixa de fazer. Mas, se se mantiver como empresa pública, temos de exigir ao Governo que demita quem lá está”, afirmou Rui Moreira na segunda-feira à noite, na parte final de uma assembleia municipal em que os vários grupos não conseguiram gerar uma posição unânime sobre o tema, tendo aprovado uma moção do Bloco de Esquerda com 31 votos a favor, 11 contra e três abstenções.

Moreira abordou este tema quando já não podia influenciar a votação da moção realizada antes da ordem de trabalhos e na qual o bloquista José Castro apontava ainda baterias à concessão da ANA, às taxas aeroportuárias e aos riscos de o Porto se tornar uma base de operadoras low cost, o que não gerou consenso. Visivelmente insatisfeito por não se ter conseguido, também neste órgão, chegar a um texto que garantisse uma posição de força semelhante à que outras instituições têm assumido, o autarca desafiou os deputados municipais a, pelo menos, defenderem a cidade dos insultos de que está a ser alvo.

Na semana passada, perante as críticas que vão subindo de tom, o porta- porta-voz da TAP, António Monteiro, afirmou: “Se alguém está em desacordo que se vá queixar ao Salazar.” Moreira garantiu que não se sentiu pessoalmente insultado com esta resposta, mas considera que ela é insultuosa para a cidade e demonstrativa do desprezo a que a companhia votou a região: “A TAP não se tem portado como transportadora nacional, e a história de que é um activo estratégico para o país e para a diáspora é uma balela. Não é verdade. Os sucessivos governos têm permitido uma gestão da TAP que, objectivamente, não interessa à diáspora, aos emigrantes e ao Porto."

O autarca insiste em trazer à discussão o historial de decisões da TAP que, argumenta, mostram que o Porto nunca foi uma aposta da companhia. E, respondendo aos receios do deputado do Bloco, argumentou que, “se não tivessem sido as low cost, o aeroporto do Porto ter-se-ia transformado "num equipamento inviável, num mero terminal de carga aérea, como esses senhores da TAP vaticinavam há uma dúzia de anos”.

Com o Porto, pelo contrário, a registar de novo um crescimento de dois dígitos no tráfego de passageiros, que passou de 6,4 milhões em 2014 para 8,1 milhões em 2015, Moreira elogiou a aposta das operadoras de baixo custo no Sá Carneiro, e diz que, perante decisores privados, pouco lhe importa se estes são irlandeses, lisboetas ou brasileiros, desde que sirvam a região. "[A Ryanair e a Easyjet], pelo menos, transportam-nos, não custam dinheiro ao erário público, têm bases no Porto [e criam emprego]", salientou.

Apesar de não terem chegado a um consenso numa moção – o Bloco foi o único partido que decidiu apresentar uma proposta de posição sobre o tema e as alterações que aceitou fazer não foram suficientes –, as várias bancadas foram unânimes nas críticas ao posicionamento da TAP. Luís Artur, do PSD, colocou-se ao lado de Rui Moreira ao afirmar que a empresa “tem tratado mal a região”, seja enquanto entidade pública seja, agora, como operador privado.

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