Ted Cruz vence caucus republicano no Iowa, Hillary apanha um susto

Clinton vence pelos democratas por margem muito curta. Trump ficou em segundo no campo republicano no primeiro round das votações nos EUA.

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Donald Trump com a mulher, Melania após discursar em Des Moines, Iowa REUTERS/Jim Bourg
Ted Cruz beija a mulher depois do discurso da vitória
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Ted Cruz beija a mulher depois do discurso da vitória REUTERS/Jim Young
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Bernie Sanders falou num “empate virtual” com Clinton REUTERS/Rick Wilking
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Hillary, Bill e Chelsea Clinton no final do comício em Des Moines REUTERS/Adrees Latif

O caucus do Iowa serviu para mostrar que não há vencedores por antecipação nas presidenciais dos Estados Unidos. Esta amostragem de eleitores provou também que, neste que é um dos anos mais polarizados da política americana, as bases democrata e republicana estão com pouca vontade de seguir orientações partidárias, posicionando-se contra o establishment e optando por figuras nos extremos ideológicos.

No Partido Republicano, Ted Cruz, de 45 anos, ganhou, com 27,7% dos votos, relegando para segundo lugar o bilionário Donald Trump (24%), uma figura difícil de definir ideologicamente que se tem vindo a afirmar nas sondagens nacionais pela sua atitude de desafio e discurso socialmente populista (anti-imigração) e economicamente proteccionista. Em terceiro lugar ficou Marco Rubio (23,1%).

No campo democrata, esta primeira votação pode ter sido ganha, à tangente, por Hillary Clinton, que apanhou “o susto da sua vida”, segundo o jornal The Guardian. Os resultados oficiais dizem que a antiga secretária de Estado de Barack Obama obteve 49,9% dos votos e Sanders 49,6%.

Mas o Guardian relata que em algumas assembleias, e devido a empates, foi preciso atirar moeda ao ar, segundo indicação do Partido Democrata, para decidir a quem dar a vitória – o jornal mostra imagens desses lançamentos de moeda. Por isso, Sanders não assumiu oficialmente a derrota. E já o candidato abandonava o Iowa, quando a sua campanha anunciou que está a ser ponderado se contesta ou não o resultado.

Clinton, que passou grande parte da pré-campanha quase como candidata única do Partido Democrata, viu aparecer na corrida o veterano senador Bernie Sanders, definido como um socialista democrata, que aos poucos foi ganhando terreno nas sondagens.

Um caucus é uma eleição feita numa assembleia. É uma das formas de os dois grandes partidos dos EUA escolherem quem serão os seus representantes no boletim de voto no dia das eleições presidenciais, em Novembro. Não é uma escolha directa: através de caucus e de primárias (votação em urna), os candidatos elegem delegados às convenções partidárias, que se realizam no Verão (a democrata de 25 a 28 de Julho, a republicana de 18 a 21 de Julho). O candidato que conseguir mais delegados ganha a nomeação.

Tudo em aberto
O Iowa é o estado onde se realiza a primeira votação e, apesar de não ser representativo da sociedade americana — tem apenas três milhões de eleitores, cerca de 1% dos votos nacionais, sendo quase 90% deles brancos —, é um indicador de tendências. Se há uma ilação que já se pode retirar, é a de que este vai ser um ano volátil na política americana. Donald Trump, que se apresentou como invencível, afinal pode ser derrotado. Hillary Clinton, que tem atrás de si todo o peso do aparelho democrata, não tem a nomeação garantida.

Mas o caucus do Iowa serve também para os intervenientes se posicionarem. Do lado dos candidatos, fica claro quais são os que têm hipóteses e quais os que devem começar a desistir — entre os muitos republicanos na corrida, um já anunciou a sua saída, Mike Huckabee. O democrata Martin O'Malle também decidiu afastar-se. Mas todos os olhos estão postos noutro candidato, Jeb Bush, o “príncipe” republicano que “desapareceu” na votação de segunda-feira à noite no Iowa (teve 2,7% dos votos).

Bush é o candidato com linhagem, descendendo de uma família com grande influência na família republicana, de onde saíram dois presidentes, George Bush (pai) e George W. Bush (irmão de Jeb). Desde o primeiro momento, teve do seu lado os grandes financiadores republicanos, que poderão a partir de agora canalizar as suas doações para candidatos com maiores possibilidade de garantir que a Casa Branca passa para um republicano, depois de ter estado oito anos nas mãos de um democrata, Barack Obama.

“O Iowa passou uma mensagem que diz que o candidato do Partido Republicano e o próximo Presidente dos Estados Unidos não será escolhido pelos media, nem será escolhido pelo establishment de Washington”, disse Ted Cruz ao comentar a vitória. Uma mensagem sem subterfúgios — uma queixa contra os media que todos os dias expõem Donald Trump aos eleitores, uma condenação ao partido que o ostracizou. Cruz pertence à ala ultraconservadora dos republicanos conhecida por Tea Party; o seu extremismo político levou-a a ter iniciativas de boicote total a Obama e aos democratas, por exemplo, um shutdown, que é uma suspensão no financiamento público que leva à paralisia do Governo.

Perguntas e respostas: o que é o caucus?

Trump, que horas antes da votação tinha dito contar com uma “tremenda vitória”, manteve-se fiel à sua retórica ao dizer que estará a partir desta terça-feira em New Hampshire — o próximo estado a ir a votos, dia 9 realizam-se ali primárias. “Vamos perseguir a nomeação republicana e vamos vencer facilmente Hillary ou Bernie”, disse Trump, que considerou “uma honra” este segundo lugar no Iowa.

O candidato republicano mas de fora do sistema partidário sabe que New Hampshire não é um estado tão favorável a Ted Cruz como o Iowa. Aqui, Cruz beneficiou de muitos votos anti-Trump (esses também surgirão em New Hampshire), mas capitalizou sobretudo no voto “anti-Washington” dos cristãos evangélicos deste primeiro estado a votar — o voto religioso é escasso em New Hampshire, onde as bases partidárias costumam ser mais tradicionalistas, se bem que esta eleição já tenha mostrado ser atípica.

Porém, como muitos analistas já tinham arriscado, esta vitória de Cruz — e a tremenda derrota de Bush — pode obrigar o Partido Republicano, incomodado desde o primeiro minuto com a presença de Trump na corrida e irritado com a sua progressão nas sondagens, a “engolir o sapo” e a começar a apoiar Ted Cruz já em New Hampshire.

Explica o jornal The Washington Post que o Partido Republicano está habituado a voltar-se para "o segundo classificado", quando o primeiro não agrada. Neste caso, o segundo é Marco Rubio, de 44 anos. Partilha uma circunstância com Ted Cruz – os dois são filhos de imigrantes cubanos e ambos podem mobilizar o importante eleitorado latino para ir votar.

No Partido Democrata não haverá tantas movimentações de bastidores nas próximas semanas como nas hostes republicanas. Mas Hillary Clinton vai ter de empenhar todos os recursos em New Hampshire, se quiser recuperar a aura de vencedora que conseguiu manter até há pouco tempo.

“Que emocionante”, disse Clinton. "Foi um alívio”, disse a candidata aos apoiantes depois de se saber que conseguira mais delegados do que Sanders no Iowa.

Terá sido, mas deixou tudo em aberto, o que só é um sinal positivo para o seu adversário. Há escassos três meses, a candidatura de Sanders estava 30 pontos atrás da de Clinton nas sondagens.

“Há nove meses, viemos a este estado maravilhoso e não tínhamos qualquer organização política, não tínhamos dinheiro, não tínhamos um nome reconhecível e desafiámos a mais poderosa organização política dos Estados Unidos”, disse Sanders, que tem 74 anos, mas que se afirmou entre o eleitorado democrata mais jovem. "Esta noite significa um magnífico ponto de partida para a campanha nacional. Mostrou ao povo americano que esta é uma campanha para ganhar", disse o candidato democrata.

Clinton parte para New Hampshire com um amargo de boca e com 2008 no pensamento. Nesse ano também foi a candidata favorita do Partido Democrata, até aparecer na corrida o praticamente desconhecido Barack Obama a vencer no Iowa.

 

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