BPI regista lucros de mais de 236 milhões, o valor mais alto deste “milénio”

Banco do Fomento Angola, que o BPI decidiu não vender a Isabel dos Santos, contribuiu com 51% para os resultados líquidos

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Banco liderado por Fernando Ulrich reportou lucros Daniel Rocha

O BPI registou em 2015 um lucro de 236,4 milhões de euros, o valor mais alto deste “milénio” e que compara com o prejuízo apurado no ano anterior de 163,4 milhões. O dado foi divulgado esta quarta-feira pelo presidente do banco Fernando Ulrich, que salientou que o resultado obtido foi o melhor deste "milénio", o que traduz o facto "de o banco estar muito melhor do que estava". 

O regresso a lucros expressivos e o “bom” desempenho do Banco do Fomento Angola (BFA) (que contribuiu com 51% para os lucros do BPI) foram dois temas destacados por Fernando Ulrich, na conferência de imprensa de divulgação das contas do exercício passado. O banqueiro falou aos jornalistas depois de o Conselho de Administração ter “rejeitado unanimemente” (sem a presença do representante da Santoro) a oferta da Unitel, de Isabel dos Santos, que se propôs comprar mais 10% do capital do BFA onde o BPI possui 50,1%. O "chumbo" decorreu de uma análise que concluiu "que não era uma boa solução para a situação que o BPI tem de resolver" mas "não foi uma questão específica”, explicou Ulrich. Com a segunda posição no BPI, Isabel dos Santos controla através da operadora de telecomunicações angolana 49,9% do BFA.

No quadro do ajustamento da presença do BPI em Angola, vai ser levada à assembleia-geral de 5 de Fevereiro uma proposta da administração de passagem dos activos africanos (em Angola e Moçambique) para uma holding autónoma a deter pelos actuais accionistas, mas que Isabel dos Santos não aceitou. Ainda assim, Ulrich acredita que o tema de Angola (saída do BPI do BFA) esteja resolvido até Abril. Em causa está a resposta do BPI às alterações regulamentares europeias de contabilização dos rácios de capital, pois o BCE exige que os bancos sob a sua alçada contabilizem a 100% [o requisito oscilava antes entre 0% e 20%] o impacto da exposição a grandes riscos de entidades de mercados com fiscalizações que considera não equiparáveis à europeia. E onde se inclui Angola.

Para o banqueiro, "e por ironia", em 2015 o contributo do BFA para os resultados consolidados do BPI foi de 136 milhões de euros, "o maior de sempre, com excepção de 2008". Mas ao contrário de há seis anos, em que o BPI se apropriou da totalidade dos resultados do BFA (onde tinha 100%), em 2015 (agora com 50,1%) só recebeu metade.

“Temos sido criticados por termos [na internacionalização] posto os ovos todos no mesmo cesto”, mas “esquecem-se que investimos no BFA, em 1993, três milhões de euros, mas já recebemos cerca mil milhões, para além da posição de 50,1% que ainda mantemos”.  E “dizem que fizemos erros em Angola? Não consigo vislumbrar”, pois os números “são esmagadores”. 

A retirada pelo BCE do estatuto de equivalência de Supervisão da República de Angola (que vai deixar o BPI sem uma fonte de receitas), foi um dos factores que Ulrich incluiu no enquadramento "particularmente exigente" em que o BPI desenvolveu a actividade em 2015. Enumerou outros acontecimentos perturbadores "num ano que seria de cruzeiro": a OPA do seu maior accionista, o espanhol La Caixa, sobre o capital do BPI (que acabou por ser retirada após oposição de Isabel dos Santos), a oferta do BPI de compra do Novo Banco, que o Banco de Portugal deixou cair na fase final, a resolução do Banif que criou incerteza à volta do sector.

"Sabemos que o novo processo de venda do Novo Banco se vai abrir e, nessa altura, analisaremos as condições e a informação que for disponibilizada", admitiu Ulrich. O BPI tem um historial conhecido: "Em 2000, o BPI acordou uma fusão com o BES que não foi para a frente" e depois lançou a OPA sobre o BCP que falhou. "A nossa opinião sobre as economias de escala é conhecida". 

O banqueiro adiantou que a abertura para avaliar aquisições, está sustentada nos bons resultados de 2015. Na operação doméstica, o BPI voltou aos lucros com um resultado positivo de 93,1 milhões, que compara com um prejuízo de 289,7 milhões em 2014. Já no segmento internacional o lucro cifrou-se em 143,3 milhões, mais 13,6%. Em termos de solidez de capital, o rácio de referência (CET 1) ficou em 11,1%, acima dos 10,2% do ano passado, já contemplando o regime de adesão aos impostos diferidos activos e a nova contabilização da exposição a Angola.  Ulrich esclareceu ainda que teve de assumir custos de 31 milhões com os mecanismos de protecção de clientes e no financiamento de intervenções em bancos com dificuldades (em 2014 o valor foi de 21,5 milhões).

Instado a comentar as informações desta semana que o dão de saída do BPI, por fim de mandato, notou que "o mandato do Conselho de Administração do BPI termina na Assembleia Geral de 2017, e no dia 20 de Abril de 2017", então falará sobre se fica ou sai da instituição, pois caberá aos accionistas tomar a decisão.

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