Ataques antimuçulmanos triplicaram em França

O maior número de incidentes registou-se nos primeiros meses de 2015. Medidas de segurança foram reforçadas nos locais de culto.

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Corão incendiado num ataque recente a uma mesquita na Córsega Pascal POCHARD-CASABIANCA/AFP

Pode ser um simples vidro partido ou um grafitto insultuoso, mas também um fogo posto de maiores dimensões. Os actos antimuçulmanos em França triplicaram no ano de 2015, revelou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, numa entrevista ao diário La Croix publicada nesta quarta-feira.

As autoridades confirmaram “cerca de 400” actos antimuçulmanos no ano de 2015, sendo que mais de metade destes registos (acções e ameaças) ocorreram no primeiro trimestre, na sequência dos atentados terroristas de Janeiro contra o jornal satírico Charlie Hebdo e uma mercearia judaica em Paris, que fizeram 17 mortos.

O presidente do Organização Nacional contra a Islamofobia, Abdallah Zekri, reagiu a estes números com um comunicado em que considera que “a islamofobia deve ser combatida não apenas pelos muçulmanos mas também pela comunidade nacional no seu conjunto, porque não é possível ouvir e aceitar que responsáveis políticos possam dizer que o islão é incompatível com os valores da República”.

Na entrevista ao La Croix, Cazeneuve reafirmou que as “raízes cristãs de França são incontestáveis, tendo em conta o seu passado histórico”. Mas também disse que isso não pode ser “um motivo de exclusão dos que não são cristãos”, nem “podemos esquecer a contribuição que deram também à história do nosso país”. A revista Nouvel Obs nota que esta ressalva é inédita no discurso do ministro do Interior, mais habituado a defender, como fez recentemente em Estrasburgo, “que os valores da República são largamente os do Evangelho”.

Agora, e levado a comentar os números de ataques antimuçulmanos e anti-semitas, Bernard Cazeneuve defende que a laicidade “não se impõe, afirma-se”, e considera que “querer lançar uma guerra às religiões seria um erro muito grave”.

Num encontro, na segunda-feira, com mais de uma centena de personalidades muçulmanas, Cazeneuve comprometeu-se “solenemente” a proteger “os locais de culto muçulmano, “enquanto as ameaças persistirem”. O ministro recordou que cerca de 1000 das 2500 mesquitas de França são já objecto de medidas de segurança e vigilância e que o Governo vai consagrar nove milhões de euros ao longo dos próximos três anos para permitir que os locais de culto sejam equipados com meios de segurança, nomeadamente videovigilância.

Vandalismo, grafitti, incêndios... os números de 2015 mostram que os ataques anti-religiosos não se limitaram ao culto muçulmano. Em relação a 2014, os cemitérios e igrejas cristãs registaram um aumento de 20% no número de incidentes, com 810 casos registados. Os ataques a locais muçulmanos tiveram um aumento de mais de 200% (quase todos contra mesquitas). O fenómeno inverso verifica-se nos ataques contra a comunidade judaica: a degradação de sinagogas baixou 46% em relação ao ano passado, mas a profanação de cemitérios duplicou.

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