Ponte laranja sobre a Segunda Circular serve 20 peões e dois ciclistas por hora

A ponte ciclo-pedonal sobre a Segunda Circular já se impôs como grande peça de design, mas ainda serve de pouco para ligar Telheiras ao resto da cidade.

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Nuno Ferreira Santos

A obra que António Costa anunciou em 2009 como primeiro passo para a humanização da Segunda Circular, a ponte ciclo-pedonal inaugurada em Fevereiro do ano passado, já ganhou o estatuto de ícone e de peça de grande relevância estética — a ponto de ter sido classificada, por um site especializado em design, como uma das dez “melhores” do mundo em 2015. Longe está, porém, o cumprimento do papel que lhe foi destinado como elemento fulcral da ligação entre Telheiras e o resto da cidade, para benefício de ciclistas e peões: a média dos seus utilizadores, nos dias úteis de Inverno, não deve passar dos 230 peões e dos 20 ciclistas.  

Estes números resultam de uma contagem efectuado pelo PÚBLICO durante três dias seguidos, em meados de Dezembro, antes das férias escolares, entre as 9 e as 21 horas. Na soma das 12 horas (quatro em cada dia) verificou-se que a passagem foi atravessada 454 vezes a pé e 37 de bicicleta. Assumindo-se que, em geral, quem passa para um lado, regressa mais tarde no sentido contrário, teremos perto de 230 peões, quase todos adultos, e de 20 ciclistas a servirem-se da passagem naquele período. 

Dividindo esses números por 12 teremos perto de 20 peões e menos de dois ciclistas por hora. Acresce que não são raros os ciclistas e os peões que atravessam várias vezes aquele estrutura, circulando de um lado para o outro, no exercício das suas práticas desportivas. No período nocturno, os atravessamentos são raríssimos e têm um reflexo insignificante nestes números.

Da parte da manhã (9 às 13h), a circulação de peões entre Telheiras e as Torres de Lisboa quase que duplica a que se faz na direcção contrária, verificando-se o oposto entre as 17 e as 21h. Estes dados e a observação feita no local indicam que grande parte dos utilizadores são pessoas que trabalham nas Torres de Lisboa — conjunto imobiliário onde estão instaladas várias empresas, com destaque para a Galp. 

É nesses edifícios, em cuja silhueta o desenho da ponte foi enquadrado, que o grupo petrolífero responsável pelo financiamento de dois terços do custo da obra tem a sua sede. A seu cargo ficaram 900 mil euros, cabendo ao município mais cerca de 500 mil.

O PÚBLICO perguntou à Câmara de Lisboa, no passado dia 18, qual a avaliação que faz do contributo da nova ponte para o desenvolvimento da mobilidade suave na cidade, e também quais as estimativas de atravessamentos de que dispounha antes de decidir investir naquele local, mas não obteve resposta.

 

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