Assassinato de advogado curdo agrava tensão na Turquia
Funeral de Tahir Elçi realizou-se este domingo. Advogado e activistas dos direitos humanos estava a ser julgado por defender que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão não é uma organização terrorista.
Milhares de pessoas marcaram presença, este domingo, no funeral de Tahir Elçi, um conhecido advogado curdo que foi assassinado a tiro no sábado em Diyarbakir, no Sudeste da Turquia.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, disse que a arma encontrada no chão, perto do corpo de Elçi, foi a mesma que foi usada no assassinato de dois polícias, no mesmo dia – os funerais destes dois agentes também se realizaram este domingo. Davutoglu prometeu perseguir os culpados e levá-los a responder judicialmente pelo crime.
Tahir Elçi, que foi morto a tiro pouco depois de ter falado aos jornalistas, estava a ser julgado por "disseminação de propaganda terrorista", por ter afirmado na televisão que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) não é uma organização terrorista, o que vai contra a posição oficial do Governo turco – apesar de não considerar o PKK uma organização terrorista, o advogado condenou as acções violentas que o partido levou a cabo ao longo dos anos.
Centenas de pessoas foram mortas desde Julho, quando chegou ao fim uma trégua entre o PKK e as forças de segurança da Turquia. Esse momento reacendeu um conflito que começou em meados da década de 1980 e que fez cerca de 40.000 mortos desde então.
Numa entrevista à estação britânica Channel 4, em Outubro, o advogado curdo disse que recebeu inúmeras ameaças de morte, principalmente através das redes sociais e por telefone, muitas descrevendo a forma como iria ser assassinado. Na mesma entrevista, Elçi disse que na Turquia há abertura para se discutir muitas coisas, mas a situação torna-se perigosa quando se ultrapassa uma das várias "linhas vermelhas": o genocídio arménio, o PKK, o terrorismo, ou qualquer outro "tabu da ideologia do Governo ou do Estado".
A morte de Tahir Elçi vai agravar ainda mais a situação no Sudeste da Turquia, de maioria curda. Para tentar evitar actos de violência em larga escala, o Governo de Ankara instituiu o recolher obrigatório em Diyarbakir e ordenou às forças de segurança que lancem operações contra os membros da juventude do PKK.
No funeral de Elçi estiveram presentes deputados do Partido Democrático do Povo, pró-curdo, e líderes das associações de advogados locais. Os representantes da associação de advogados de Diyarbakir (de que Elçi era presidente) esperaram pela saída do corpo do hospital e ergueram uma faixa em que se lia "Não nos esqueceremos de ti", em turco e em curdo.
Do outro lado do país, em Istambul, houve protestos na noite de sábado na sequência da morte do advogado. A polícia interveio e dispersou a multidão com gás lacrimogéneo e canhões de água.