Estado de emergência decretado na Crimeia após apagão

Activistas impedem trabalhos de recuperação das linhas eléctricas. Depois do bloqueio energético, o Governo ucraniano limitou o tráfego de bens para a península russa.

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A sabotagem acabou por afectar também cidades ucranianas na região ucraniana de Kherson Stringer/REUTERS

As autoridades russas mantiveram esta segunda-feira o estado de emergência decretado na véspera na Crimeia depois de explosões provocadas nos postes de alta tensão na Ucrânia terem deixado 1,6 milhões de pessoas sem electricidade na península, anexada à Rússia no ano passado. 

Dois postes centrais foram vandalizados na região de Kherson, a sul da Ucrânia, na noite de sexta-feira, danificando as principais linhas de fornecimento de energia eléctrica da República Autónoma da Crimeia. No sábado mais dois postes foram sabotados, deixando quase toda a região às escuras, pelas 00h25 locais (22h25 em Portugal continental).

Num comunicado oficial, o ministro da Energia russo, Volodimir Demchishin, afirmou que entre 20% e 30% da população já dispunha de energia este domingo, a maior parte fornecida por geradores. Os hospitais e o aeroporto da cidade continuaram a funcionar, mas o fornecimento de energia do continente ucraniano não foi reposto.

As autoridades russas impuseram medidas de prevenção, reduzindo os consumos de energia. O fornecimento foi racionado em cidades como Simferopol, onde três vezes por dia a electricidade é cortada, e Sebastopol, que de seis em seis horas fica sem energia, reactivada depois durante três horas. A maioria das escolas foram encerradas e esta segunda-feira os crimeanos não foram trabalhar, já que as empresas estão proibidas de funcionar.

Apesar de Moscovo não ter identificado os responsáveis, o governador da Crimeia, Serguei Aksionov, acusou ucranianos nacionalistas da autoria das explosões. “Não deixaremos que ninguém nos fale numa linguagem chantagista”, cita o The Guardian.

Apesar da anexação à Rússia em Março do ano passado, e dos planos de Moscovo para garantir as infra-estruturas básicas da região, a Crimeia continua a depender da Ucrânia para receber a maior parte da água e da electricidade que consome, bem como bens e alimentos.

A empresa pública de energia ucraniana, Ukrenergo, anunciou inicialmente que iria reparar as linhas de alta tensão nos próximos dois dias, uma vez que as falhas de energia poderiam ter um efeito dominó na Ucrânia. No entanto, existem activistas no local a impedir os trabalhos.

De acordo com a agência noticiosa estatal russa Sputnik, estes manifestantes estão associados ao grupo Bloqueio Civil da Crimeia que tentou recentemente bloquear o fornecimento de alimentos da Ucrânia para a península. O grupo divulgou uma imagem na rede social Twitter em que se vê um dos postes de alta tensão derrubados com o símbolo dos tártaros da Crimeia, mas negou à agência Reuters qualquer envolvimento. Os activistas pró-ucranianos, na sua maioria tártaros, são contra a anexação da Crimeia pela Rússia e acusam as autoridades russas de reprimirem a presença do grupo no seu “território nativo”.

Os autores dos bloqueios reivindicam o fim das relações económicas com a Crimeia e, num comunicado emitido esta segunda-feira, o Governo da Ucrânia decretou a limitação temporária de troca de bens entre a Ucrânia e a República Autónoma da Crimeia.

De acordo com o site oficial do Governo de Kiev, “o Ministério do Desenvolvimento Económico e do Comércio irá elaborar uma directiva que contenha uma lista específica de bens, trabalhos e serviços que podem ser entregues à República Autónoma da Crimeia”.

“A lista de produtos deverá ir ao encontro dos interesses da Ucrânia em primeiro lugar. Proponho conversações com os tártaros da Crimeia para assegurar que esta decisão tem em conta os interesses dos nossos irmãos tártaros”, reforçou Arseni Iatseniuk, chefe do Governo ucraniano.

(Texto editado por João Ruela)

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