Novas operações em Bruxelas. Principal suspeito ainda em fuga
Desmentida tese de que Salah Abdeslam foi avistado a bordo de um BMW. Polícia fez cinco novas buscas domiciliárias e detenções. Encontrou dinheiro, mas não armamento.
A polícia belga seguiu o rasto das operações antiterrorismo da noite de domingo e fez cinco novas detenções na manhã desta segunda-feira. As novas capturas deram-se durante várias “buscas suplementares”, efectuadas em Bruxelas e Liège. Somam-se agora às 16 pessoas detidas durante a noite. “Há um total de 21 pessoas detidas desde ontem”, resume um comunicado do gabinete do procurador federal belga. “Estão a ser agora interrogadas pela polícia.”
Salah Abdeslam continua em fuga e, acredita a investigação, está ainda na Bélgica, para onde fugiu depois dos atentados de Paris. Acredita-se que o francês tem um colete de explosivos e que estará preparado para fazer um novo atentado, possivelmente em Bruxelas. A capital está em alerta de segurança máximo. Escolas e metro estão encerrados.
Os jornais belgas La Libre e Le Soir avançavam na noite de domingo que a polícia tinha avistado Salah a bordo de um BMW, nos arredores de Liège, mas que este conseguira escapar a um controlo de estrada e partido em direcção à Alemanha.
As notícias foram desmentidas nesta segunda-feira pelo procurador belga, que disse que o caso não estava relacionado com as operações antiterrorismo no país. “O veículo foi identificado. As investigações que se seguiram mostraram que não há de todo ligação com a operação em curso”, lê-se no comunicado.
Não foram encontradas armas ou explosivos nas buscas desta segunda-feira – cinco aconteceram em Bruxelas, outras duas em Liège. O mesmo aconteceu com as 19 operações da noite de domingo, o que sugere que a polícia está longe de células jihadistas que possam passar à acção no curto-prazo. Tudo o que a polícia encontrou nesta manhã foram 26 mil euros numa das casas investigadas.
Noite agitada
As 19 operações policiais da noite de domingo estenderam-se por Bruxelas (Molenbeek, Anderlecht, Jette, Schaarbeek, Woluwe e Forest) e Charleroi. Ocorreu um incidente em Molebeek: a polícia disparou dois tiros contra um veículo que seguia em direcção a agentes. O condutor, que ficou ferido, fugiu, mas foi mais tarde detido.
O centro de Bruxelas viveu uma noite agitada. Um jornalista da BBC relatou que a população que vive na zona foi avisada para se manter em casa e longe das janelas, que deviam manter-se fechadas. Algumas pessoas que jantavam em restaurantes da área informaram, via Twitter, que foram escoltadas para fora dos estabelecimentos até zonas seguras. Outras disseram que as mandaram ficar dentro dos restaurantes, de portas trancadas e abrigados.
Ao início da noite de domingo, a polícia fez um pedido para que não fossem divulgados pormenores sobre a operação em curso, um apelo dirigido sobretudo aos meios de comunicação mas também a todos os que publicam informações nas redes sociais. O jornal belga Le Soir informou os leitores que ia cumprir o pedido da polícia e outros jornais, como o L'Avenir ou L'Echo, fizeram o mesmo.
Par sécurité, veuillez respecter le silence radio sur les médias sociaux concernant les opérations de police en cours à #Bruxelles. Merci
— Police Fédérale (@PolFed_presse) November 22, 2015
Após o pedido da polícia, vários utilizadores do Twitter começaram a inundar as timelines com imagens de gatos para ocultar informação que pudesse ser útil para os suspeitos de terrorismo.
Já depois de a operação ter terminado, a polícia agradeceu à imprensa e aos utilizadores das redes sociais "por terem tido em conta as necessidades da operação que estava a decorrer".
Metro e escolas fechadas
As operações iniciaram-se depois de o Governo ter anunciado que Bruxelas se vai manter em estado de alerta máximo, de nível 4, para situação de ameaça "séria e iminente". Todas as escolas e o metro vão continuar encerrados nesta segunda-feira, disse o primeiro-ministro, Charles Michel.
O resto da Bélgica permanecerá no nível 3 de alerta, accionado quando a ameaça é considerada "possível e provável".
Charles Michel voltou a invocar o receio de ocorrência em Bruxelas de "um ataque como o de Paris", com múltiplas acções coordenadas, em que os possíveis alvos da ameaça “séria e iminente” seriam centros comerciais, lojas e outros lugares públicos, além de transportes colectivos.
Numa conferência de imprensa, o primeiro-ministro anunciou a intenção de reduzir o número de acontecimentos com a participação de elevado número de pessoas e ainda o reforço da presença da polícia e das Forças Armadas nas ruas.
Uma nova avaliação da situação será feita na segunda-feira à tarde.
Reportagem: "A cidade é bonita, mas está tudo fechado"
Nos últimos dois dias foram cancelados concertos, e vários locais de aglomeração de pessoas como cinemas, museus ou grandes lojas fecharam as portas.
As ligações de Bruxelas e do município de Molenbeek aos atentados de Paris contribuíram para que este fim-de-semana a capital belga fosse colocada em estado de alerta. Brahim Abdeslam e outro bombista suicida dos atentados de 13 de Novembro, Bilal Hadfi, viveram na Bélgica e Salah Abdeslam regressou àquele país depois de perpetrados os ataques na capital francesa. Um terceiro suspeito de ligação aos ataques concertados em Paris foi detido na Bélgica horas antes de ter sido elevado o nível de alerta para o máximo de 4 em Bruxelas. A sua identidade não foi divulgada, mas a polícia diz que “em sua casa foram encontradas várias armas”. Terá ainda ajudado Salah Abdeslam na fuga.