A segunda obra mais cara do mundo é de Modigliani: 158,3 milhões de euros

Nu couché (Nu deitado) estava há 60 anos na mesma família. A obra foi nesta segunda-feira a leilão e acabou comprada por um casal chinês.

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Nu Couché (Nu Deitado) estava na mesma família há 60 anos Reuters
A disputa da obra durou nove minutos
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A disputa da obra durou nove minutos AFP
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A licitação ao telefone foi feita por Liu Yiqian ao telefone Reuters
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Nurse, de 1964, de Roy Lichtenstein, também bateu o recorde do artista Reuters
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Pintura foi vendida por 88,6 milhões de euros Reuters

É considerada uma das obras-primas de Amedeo Modigliani (1884-1920). Nu couché (Nu deitado) é já a segunda obra mais cara de sempre vendida em leilão. Foi à praça nesta segunda-feira na Christie’s de Nova Iorque por cem milhões de dólares (cerca de 93 milhões de euros) e acabou por ser comprada por 170,4 milhões de dólares (158,3 milhões de euros) – um valor não muito distante do recorde batido este ano por Les femmes d'Alger (version O), de Pablo Picasso, arrematada por 159,3 milhões de euros.

Foram precisos apenas nove minutos para que a obra, pintada pelo artista italiano entre 1917 e 1918, acabasse arrematada. Segundo o New York Times, a venda de Nu deitado foi tensa, tendo sido disputada por sete pessoas. O Wall Street Journal conta que quando o leilão ia nos 140 milhões de dólares (130 milhões de euros), o galerista coreano Hong Gyu Shin, que em 2013 licitou por cem milhões de dólares uma pintura de Francis Bacon, entrou na corrida pelo Modigliani, para surpresa de todos os que estavam na sala. No entanto, a pintura acabou por ser comprada por um licitador chinês que acompanhou o leilão ao telefone.

A Christie’s não identifica o comprador, mas, segundo o Wall Street Journal, trata-se do empresário e investidor Liu Yiqian, que começou por ser taxista, e da sua mulher Wang Wei. Em 2011, a BBC identificava o casal como os maiores investidores de arte na China, país sempre presente nos maiores leilões de arte. Yiqian e Wei construíram há cerca de três anos o seu próprio museu em Xangai para exporem a sua grande colecção privada, maioritariamente composta por arte chinesa. “O nosso museu tem dois a três anos e abriga principalmente obras da cultura tradicional chinesa. É uma grande oportunidade para nós coleccionar uma obra-prima mundial que levará o nosso museu para uma nova era”, reagiu Liu Yiqian ao Wall Street Journal.

Foi a primeira vez que Nu deitado foi a leilão. A pintura a óleo, com o tamanho de 59,9 cm de altura por 92 cm de largura, estava na posse da mesma família há mais de meio século. Pertencia à historiadora de arte Laura Mattioli Rossi, filha do coleccionador italiano Gianni Mattioli. Para alguns especialistas, o facto de a obra ter pertencido à família Mattioli durante 60 anos aumentou o seu valor, escreve o Wall Street Journal. A Laura Mattioli Rossi a Christie’s tinha garantido pelo menos 100 milhões de dólares (cerca de 93 milhões de euros).

Clube dos 100 milhões
Nu deitado é uma das obras mais admiradas do pintor e escultor italiano, tendo causado escândalo na primeira vez que foi exposta em Paris, cidade onde Modigliani passou parte da sua vida – aqui viria a morrer precocemente, em 1920, com apenas 35 anos, vitimado por uma meningite tuberculosa. Modigliani é para muitos o pintor das mulheres estilizadas e desnudadas. A venda desta obra aumenta em muito o recorde do artista em leilão. Até agora, a sua obra mais cara vendida em leilão tinha sido a escultura Tête, arrematada por 71 milhões de dólares (aproximadamente 66 milhões de euros) em Novembro do ano passado.

O recorde de venda em leilão, esse, pertence a Pablo Picasso, quando em Maio último Les femmes d'Alger (version O) acabou vendido por 179,4 milhões de dólares (159,3 milhões de euros ao câmbio de então). Nu deitado, além de ser agora a segunda obra mais cara de sempre vendida em leilão, entra para o clube dos cem milhões de dólares, ou seja, das peças compradas acima desse montante. Fazem parte do clube Picasso (três vezes), Bacon, Giacometti (três vezes), Warhol e Munch.

No total, na noite de segunda-feira, a Christie’s vendeu 34 lotes por 491,4 milhões de dólares (cerca de 457 milhões de euros). Destaque também para Nurse (1964), de Roy Lichtenstein (1923-1997), que ultrapassou as expectativas ao ser vendida por 95,4 milhões de dólares (88,6 milhões de euros) – um recorde para o artista, cuja obra mais cara até agora tinha sido Women with flowered hat (1963), leiloada em 2013 por 56,1 milhões de dólares (52 milhões de euros).

Thérèse, uma escultura de madeira do francês Paul Gauguin (1848-1903), foi vendida por 30,9 milhões de dólares (28,7 milhões de euros), um recorde para uma escultura do artista. A estimativa mais alta da Christie’s apontava para os 25 milhões de dólares (23 milhões de euros).

Entre os coleccionadores na sala estiveram caras conhecidas, como o designer de moda Valentino e o coleccionador e investidor norte-americano Eli Broad.

Brett Gorvy, o director internacional da Christie's para a arte contemporânea, fez um balanço positivo do leilão, que não conseguiu vender, apesar de tudo, 30% dos lotes, entre os quais se destaca Naked portrait on a red sofa (1988-91), de Lucian Freud, avaliado em 30 milhões de dólares (cerca de 28 milhões de euros). Ao New York Times, Gorvy destacou a “muito forte participação asiática na venda”. “Isto demonstra um mercado muito dinâmico para as obras-primas”, defendeu, com a certeza de que existe “muita liquidez no mercado”. “O clima é de confiança”, acredita Gorvy.

Para Jussi Pylkkanen, presidente da Christie's, a venda recorde de Nu deitado representa “o excelente e bem-merecido reconhecimento” de Modigliani. Quanto aos lotes que ficaram por vender, Pylkkanen explicou à BBC que alguns trabalhos não correspondem àquilo que os coleccionadores procuram neste momento, admitindo também que algumas peças talvez tivessem preços agressivos.

O leilão desta segunda-feira foi apenas o primeiro de uma série de vendas marcada para esta semana e com as quais a Christie’s estima conseguir pelo menos mil milhões de dólares. 

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