O governo angolano decidiu criar uma “comissão de avaliação para estudar a situação da Sonangol e do sector dos petróleos” e propor “as bases da sua reestruturação e um modelo de gestão mais eficaz e eficiente”.

O anúncio desta medida foi feito por Manuel Vicente, ex-CEO da Sonangol e vice-presidente da República de Angola, que substitui José Eduardo dos Santos, por “indisposiçao” deste, na leitura da tradicional mensagem do estado da Nação que se realizou esta quinta-feira em Luanda.

Antes, Manuel Vicente, ao ler o discurso preparado por José Eduardo dos Santos, afirmou que “em todo o mundo as grandes empresas petrolíferas estão em fase de reestruturação por razões conjunturais e de outra natureza”. Certo é que a estratégia de avaliar a Sonangol e preparar a reestruturação da empresa, a maior deste país, surge apenas quatro meses depois de ter sido tornado público um documento interno da empresa onde se criticavam várias vertentes da empresa, desenvolvidas durante a presidência de Manuel Vicente (que saiu do cargo em 2012, após 13 anos à frente da petrolífera estatal).

No referido documento, datado de 15 de Maio, o actual presidente da petrolífera estatal angolana, Francisco de Lemos José Maria (e ex-administrador financeiro de Manuel Vicente), lançou um alerta para a forma tinha vindo a ser gerido. De acordo com este gestor, “o modelo operacional” do Sonangol  “fracassou e está falido”, denunciando a proliferação da contratação de prestação de serviços, incluindo a “contratação connosco próprios” e a “presença crescente de ‘contratos fantasma’”.

Afirmando que a empresa está cada vez mais dependente de terceiros, o líder da Sonangol avançava então com uns cálculos em que retira tudo o que não é efectivamente feito pela empresa, em termos de negócio (recebe subvenções do Estado e é, ao mesmo tempo, reguladora e concessionária, além de marcar presença na exploração de hidrocarbonetos), para depois internalizar tudo o que são contratações externas.

O resultado, defendia Francisco de Lemos José Maria, é um “resultado líquido negativo e crescente”. Neste quadro, diz o gestor, "a Sonangol apresenta uma enorme e tal extrema debilidade de 'assentar-se e mover-se' por si própria".

Estas críticas foram lidas por alguns analistas como uma forma de enfraquecer a posição de Manuel Vicente, tido como eventual sucessor de José Eduardo dos Santos no cargo de presidente da República.

Para já, a petrolífera, que opera nos mais variados negócios (desde a hotelaria à aviação, passando pelas telecomunicações e banca --  é o maior accionista do BCP) tem conseguido mostrar-se lucrativa. De acordo com o R&C da Sonangol de 2014, o lucro desceu nesse (devido a menor produção e a preços mais baixos) mas foi de 1353 milhões de dólares, e estimava-se que chegasse aos cerca de 700 milhões este ano.

No mesmo documento, o presidente da Sonangol afirmava querer “renegar a cultura da dependência de terceiros” e fazer crescer a eficiência da empresa, através de medidas como maior recurso a concursos públicos, redução de custos, avaliação de desempenho dos trabalhadores, crescer na área da produção.