Na Áustria, a extrema-direita ameaça tomar a "Viena Vermelha"

Heinz-Christian Strache livrou-se dos cartazes xenófobos e aproximou-se das classes mais baixas. Nas eleições municipais deste domingo pode conquistar a capital austríaca.

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O Partido da Liberdade da Áustria poliu a sua imagem e Strache já colhe os frutos eleitorais. Dieter Nagl/AFP

“Desta vez existe a possibilidade de sermos entendidos. As pessoas perceberam que o verdadeiro defensor dos trabalhadores é ele”, diz Claudia, uma secretária provisória de cerca de 40 anos que diz que há quatro não arranja “trabalho a sério”. Foi aplaudir Strache numa sessão de esclarecimento.

Bastião social-democrata desde 1919, com excepção do período fascista e nazi entre 1934 e 1945, a capital austríaca prepara-se, segundo as sondagens, para dar um terço dos seus votos ao Partido da Liberdade da Áustria (FPÃ), a formação de Strache. “Penso que está claro para todos que podemos, pela primeira vez em 70 anos, sermos a primeira força política”, assegurou o antigo técnico de próteses dentárias de 46 anos, olhos azuis e sorriso aberto.

Uma vez que não deve existir uma maioria clara para o primeiro classificado, a vitória do FPÃ não lhe dará a governação desta cidade-estado, que concentra 20% da população austríaca. Mas será um verdadeiro sismo político e um enorme sucesso para Strache, dizem os analistas.

Saído da ala mais à direita do partido, Strache derrotou o carismático Jörg Haider na corrida para a liderança do partido em 2005. O líder histórico ficou em minoria ao adoptar uma linha mais moderada depois da entrada do FPÃ na coligação governamental com os conservadores, em 2000; uma aliança que foi reprovada pela União Europeia e castigada com sanções.

Mas, progressivamente, o novo dirigente recentrou o discurso no poder de compra e na protecção social, à medida que a economia marcava passo, e poliu a imagem do partido à semelhança da francesa Frente Nacional, de Marine Le Pen.

Perante a crise de refugiados e migrantes, que motivou um importante movimento de solidariedade no país por onde transitaram 200 mil pessoas desde Setembro, Strache reconheceu que “o asilo é um direito” mas denunciou os “refugiados económicos”.

“Ele percebeu que era inútil bater muito neste assunto, que de qualquer forma joga a seu favor”, diz o politólogo Anton Pelinka.

Segundo as sondagens, Strache está na perseguição ao presidente de câmara social-democrata (SPÃ), Michael Häupl, no poder há 21 anos  separa-os apenas entre um e quatro pontos —,  um sonho que Haider, que morreu em 2008 num acidente de viação, nunca conseguiu realizar.

“A diferença entre os dois partidos encurta à medida que a subida de sete pontos do FPÃ coincide com uma erosão comparável no lado do SPÃ; uma fatia do eleitorado a passar directamente de um partido para o outro”, diz o politólogo Marcelo Jenny.

Antigo membro de um grupo radical de estudantes, Strache começou por animar o partido com mensagens abertamente xenófobas. Mas as derrapagens neo-nazis, racistas e anti-semitas foram sendo punidas, como no caso em que o cabeça de lista do partido nas Europeias de 2014 saiu da corrida devido à polémica gerada pelas suas declarações — à União Europeia chamou “conglomerado de negros”.

“Ele [Strache] mudou o discurso para se voltar para temáticas que apelam às classes modestas, que estão inseguras, interpelando directamente o eleitorado socialista. Mantém-se um fundo xenófobo, mas de uma forma latente”, considera Anton Pelinka.

Livrou-se também dos cartazes eleitorais que estigmatizavam abertamente o Islão e que martelavam frases como “o Ocidente aos cristãos”. Proclama hoje simplesmente o seu “amor a Viena”, e propõe uma “revolução de Outubro”, acenando desta maneira à revolução bolchevique.

É uma estratégia que já está a ser premiada nas urnas, e que, em Burgenland, no Leste, já deu à frutos à FPÃ, embora seja território habitual da SPÃ. As duas formações construíram em Junho uma coligação nesta província ancorada à Esquerda, que deu ao partido de Strache 15% dos votos.

No mês anterior, a FPÃ duplicou os seus resultados na Alta-Áustria, no Norte, ultrapassando a barreira dos 30% e conseguindo o segundo lugar, atrás dos conservadores do Partido Popular Austríaco. 

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