Marcelo: "Cumprirei o dever moral de pagar a Portugal o que Portugal me deu"
Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a sua candidatura à Presidência da República. "É preciso construir pontes. Com afecto", frisou.
Numa declaração feita ao final da tarde no auditório da Biblioteca Municipal de Celorico de Basto que tem o seu nome, Marcelo disse, que, “ao contrário da garantia de alguns de que faltaria à chamada, as portuguesas e os portugueses não podem dizer que fui à prova do voto, que me escondi atrás das minhas conveniências. E agora podem escolher. Entre começarmos hoje uma caminhada de meses, de angariação de assinaturas e, depois de campanha eleitoral. Ou iniciarmos, neste preciso instante, uma caminhada de cinco anos” - o horizonte do mandato presidencial.
Explicou depois que a caminhada será feita “por Portugal, com independência, sentido nacional, espírito de convergência e afecto”. Os afectos, de resto, estiveram sempre presentes ao longo da sua intervenção. E prosseguiu a explicação, afirmando que a caminhada até Belém é feita ”por Portugal, porque aqui nascemos ou nasceram os nossos antepassados aqui estão as nossas raízes, aqui estarão sempre as nossas almas. Com a mesma independência que foi necessária para exprimir a liberdade de pensamento, em ditadura como em democracia”, disse.
Falando para uma plateia composta quase só por jornalistas, o professor de Direito Constitucional falou de estabilidade governativa e deixou claro que “conhece muito bem a Constituição que nos rege" e sabe "qual é, nela, o papel do Presidente da República". “Estou ciente de como o estado do Mundo e da Europa não deixam antever anos fáceis, e de como Portugal tem der sair da claramente de um clima de crise financeira, económica e social pesada e injusta que já durou tempo demais”.
Numa altura em que decorrem negociações entre os dois partidos da direita e o PS, Marcelo deixou um sinal, pedindo “convergências alargadas”. “Para isso, considero essencial que haja — como nas democracias mais desenvolvidas — convergências alargadas sobre aspectos fundamentais”, declarou o ex-líder do PSD. Marcelo vincou que “a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior do combate à pobreza, da luta contra as desigualdades e da justiça social”.
Mas sublinhou: “Não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, com ingovernabilidade crónica e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar, no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votaram”.
Mas acenou com outras soluções de governabilidade que não passam por um governo minoritário, ao lembrar a sua própria experiência enquanto líder do PSD: "Liderei o meu partido no início de uma travessia no deserto" e "viabilizei três Orçamentos do Estado em nome do interesse nacional, permitindo que um governo minoritário [de António Guterres] durasse quatro anos".
Explicado o contexto, o antigo líder do PSD disse: “Ponderado tudo isto, assim como as candidaturas anunciadas — todas a merecerem a minha maior consideração —, e a situação nacional à saída das eleições para a Assembleia da República, tinha de fazer uma escolha”.
Marcelo, que se antecipou à apresentação da candidatura presidencial de Maria de Belém, marcada para terça-feira, deteve-se depois a explicar por que é que optou por avançar. Escolheu “a solução que rompia com posições estáveis, sedutoras nesta fase da vida". E pensou "mais do que tudo no dever de pagar ao país o que dele recebi de educação, que muitos não puderam ter, do que recebi de saúde, de oportunidades de vida, de experiência no Estado, nas autarquia locais, na comunicação social (…) e no conhecimento de protagonistas da vida internacional".
Numa frase: "É tempo de pagar esta dívida moral. De outro modo, sentiria até ao final dos meus dias o remorso por ter falhado por omissão”.
O candidato, que chegou com 20 minutos antes da hora marcada (18h00), apareceu na companhia do médico Luís Novais, seu grande amigo de Lisboa, e conversou com os jornalistas respondendo a algumas perguntas, uma vez que depois da sua intervenção não haveria direito a perguntas.
Sempre sorridente e a falar com orgulho da terra que viu nascer o seu pai, Marcelo, carinhoso, distribuiu beijos e abraços por várias dezenas de pessoas que o aguardavam à porta da biblioteca. E quando se cruzou com a mulher do ex-motorista do anterior presidente da Câmara de Celorico de Basto perguntou-lhe: “E a minha marmelada?” “Está no carro”, respondeu pronta a mulher do motorista. “Então vamos combinar que eu passo já lá para a colocar na mala do meu carro”, disse o candidato. E assim foi. Enquanto se despedia das pessoas, Marcelo viu colocar um saco com mais de 10 quilos de marmelada, fazendo um viagem mais doce rumo a Lisboa.
Macelo Rebelo de Sousa está convencido de que a sua candidatura possa ser apresentada em Dezembro, antes do Natal.
"Candidato forte", diz Costa
Reagindo ao anúncio da candidatura, o secretário-geral do PS, António Costa reconhece que Marcelo Rebelo de Sousa é um "candidato forte" às eleições presidenciais de 2016, mas mostrou confiança na passagem à segunda volta de um candidato da área socialista no sufrágio de Janeiro.
"O professor Marcelo Rebelo de Sousa será certamente sempre um candidato forte", disse António Costa, que falava aos jornalistas no final de uma reunião entre uma delegação do PS e uma outra do Partido Ecologista Os Verdes, em Lisboa.
Marcelo não pode ter a "expectativa de contar com o apoio do PS", avisou o líder do PS, lembrando a decisão de segunda-feira do partido, que em Comissão Política acordou conceder liberdade de voto aos socialistas na primeira volta das eleições presidenciais entre os candidatos do seu espaço político - ou seja, para já, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém.
"O apelo que fazemos é que todos os socialistas apoiem, entre os dois candidatos da nossa área [Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém], aquele que preferem, que participem activamente na campanha eleitoral e contribuam para que possam ter um bom resultado na primeira volta", declarou.
Marcelo Rebelo de Sousa deixa o espaço semanal de comentário na TVI com a candidatura às presidenciais, mas marcará presença na estação de Queluz no próximo domingo à noite para uma festa de despedida em directo no Jornal Nacional com todos os pivôs que partilharam com ele o espaço de comentário semanal. "O professor vem cá esta semana, mas não como comentador", disse fonte da estação televisiva.
Momentos antes de anunciar a sua candidatura, Marcelo foi questionado pelos jornalistas se pretende abandonar a administração da Casa de Bragança, um cargo que é incompatível com a candidatura a Belém. O candidato ficou surpreendido com a pergunta e respondeu que aquele não era o momento para se pronunciar. “A seu tempo tomarei uma decisão”.