É nas aldeias catalãs que o coração independentista bate mais forte

Em Santpedor, Arenys de Mount ou L’Ametlla del Vallès a votação de domingo significa mais um passo em direcção a independência.

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Em Santpedor, a Catalunha já é "um país" JOSEP LAGO/AFP

Foi nesta pequena aldeia de sete mil habitantas, que nasceu Pep Guardiola, ex-treinador do Barcelona e agora do Bayern de Munique, um fervoroso independentista. Tal com ele, um grupo de amigos espera que a votação do próximo domingo abra o caminho para a independência do seu “país”

Josep Boladeras, um empregado bancário na reforma de 62 anos, a sua mulher Carme Arno, doméstica, e os amigos Fidel Santamaria, pequeno empresário de 55 anos e Joan Fargas, professor de 64 anos, estão na origem de uma das 550 consultas municipais sem valor legal que foram organizadas em 2010 sobre a independência da Catalunha.

Aos pés do imponente Montserrat, berço do nacionalismo catalão, os quatro gabam-se de ter participado no “embrião” de um movimento que, de então para cá, não parou de crescer.

“Há cinco anos, quando tu falavas de independência, para muita gente era como se estivesses a falar de ovnis, nunca teriam pensado que isso alguma vez fosse possível”, recorda Josep Boladeras, em frente à capela gótica de Santpedor, onde foi organizada em 2010 a consulta simbólica, feita segundo o mesmo modelo da que tinha sido convocada um ano antes em Arenys de Mount.

Foi em Arenys que tudo começou. “Sempre tivemos um sentimento identitário muito forte e a esmagadora maioria dos conselheiros municipais são independentistas”, explica Josep Manel Ximenis, antigo presidente desta pequena autarquia costeira onde se realizou o primeiro sufrágio histórico sobre a independência catalã.

Numa praça onde os mais jovens jogam futebol, falando catalão entre si, Ximenis recorda aquele dia emocionante em que, apesar das ameaças dos apoiantes da extrema-direita espanhola, a participação ultrapassou os 40%, com 96% dos votos a favor da independência.

“Nas aldeias e vilas a coesão entre os habitantes é muito mais forte do ponto de vista cultural, linguístico e social”, explica o sociólogo Jordi Guiu, da universidade Pompeu Fabra de Barcelona. “De certa forma, é imposta uma maneira de pensar”, diz, reconhecendo que actualmente há várias zonas rurais que “vivem de facto como se a Catalunha já fosse independente”.

Em L’Ametlla del Vallès, a 40 quilómetros de Arenys, a estação de serviço “Petrolis Indepents” gaba-se de só pagar impostos ao governo catalão e não ao governo central. E muitos clientes gostam disso. “Eu quero a independência, por isso prefiro que o dinheiro dos impostos fique na Catalunha”, diz Joana Malpesa, de 22 anos, que se prepara para atestar o depósito do seu carro.

Nas estradas secundárias que levam a Santpedor, rodeadas de campos cultivados, quintas e colinas verdejantes, vários cartazes anunciam “municipalidade a favor da independência”. São da responsabilidade de uma associação que reúne 741 das 948 municipalidades catalãs, representando metade dos 7,5 milhões de habitantes da Catalunha. Mas não representa Barcelona, que recentemente decidiu não aderir.

É precisamente na capital catalã, onde vivem 2,2 milhões de pessoas, incluindo muitos estrangeiros e espanhóis de outras regiões, que se contam mais apoiantes da união, segundo as sondagens.

“Sou contra a independência”, proclama Laura Tinadoris, 24 anos, à saída de um comício do partido de centro-direita Ciudadanos, criado em 2006, para se opor à independência, em Badalona, um subúrbio operário de Barcelona.

“Eu sou catalã e orgulhosa de o ser e essa é a minha maneira de ser espanhola, mas o resto da minha família vem de outras partes de Espanha e eu não quero desprezar as minhas origens”, explica.

Teo Gautier, 27 anos, que tal como Laura prefere falar castelhano, concorda: “Sinto-me tanto catalão, como espanhol e não posso conceber a ideia de seremos separados”.

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