O bulldozer Trump continua a arrasar nas sondagens
O magnata chegou aos 32% das preferências numa sondagem da CNN, entre os eleitores do Partido Republicano. Jeb Bush, antigo favorito, está a 22 pontos de distância.
A sondagem mais recente, divulgada pela estação CNN, indica que Trump é o nome preferido por 32% dos inquiridos, atirando Jeb Bush para o 3.º lugar, a uns inéditos – e até há poucos meses inacreditáveis – 23 pontos percentuais de diferença.
Desde que anunciou a sua candidatura, em meados de Junho, Trump subiu de 12% para 32%, fazendo o trajecto inverso de Bush, que desceu dos 17% para 9%, segundo os números desta sondagem. E as outras não têm apresentado tendências muito diferentes.
Alguns analistas tentam fazer ouvir as suas vozes, aconselhando cautela na leitura das sondagens – porque ainda faltam cinco meses para o início das eleições no Partido Republicano; porque é natural que o discurso inflamado e arrebatador de Trump tenha uma resposta mais imediata por parte dos eleitores que partilham as suas ideias, vistas como radicais; porque numa campanha eleitoral – especialmente nos EUA – basta um deslize para que um candidato imparável se transforme, de um dia para o outro, num irremediável perdedor. E vice-versa.
Mas é difícil falar mais alto do que Donald Trump, e começa a ser muito complicado tentar perceber qual é o cenário mais provável: será Trump um balão que acabará por esvaziar-se com o passar do tempo, como continuam a defender alguns, ou estarão os EUA destinados a abrir-lhe as portas da Casa Branca?
Num longo artigo sobre a campanha de Donald Trump, publicado esta semana na revista Rolling Stone, o jornalista Paul Solotaroff resume numa curta frase grande parte do apelo do magnata: "Em muitas coisas que Trump diz, os traços gerais são mais importantes do que os detalhes."
Na quarta-feira, durante um protesto em Washington D.C. contra o acordo nuclear iraniano, o magnata proferiu mais uma daquelas frases que mobilizam quem já está predisposto a ser mobilizado, e que fazem as delícias dos meios de comunicação tradicionais e das redes sociais: "Nós vamos ter tanto sucesso, que o sucesso vai começar a entediar-vos."
Sempre que um dos seus rivais na corrida à nomeação pelo Partido Republicano arrisca apontar-lhe um defeito, Trump não se limita a responder; lança um ataque devastador que galvaniza ainda mais os seus apoiantes. Só esta semana, o magnata lidou com dois outros candidatos ao mesmo tempo, sempre com a subtileza de um bulldozer.
No artigo da Rolling Stone, Trump é citado a fazer comentários jocosos sobre a candidata republicana Carly Fiorina, antiga presidente executiva da Hewlett-Packard e a única mulher entre os 18 candidatos à nomeação: "Olhem bem para aquela cara! Acham que alguém votaria naquilo? Conseguem imaginar que aquela é a cara do nosso próximo Presidente? Quer dizer, ela é mulher, e não é suposto eu falar mal, mas a sério, pessoal. Estão mesmo a falar a sério?"
Fiorina reagiu às palavras de Trump no programa da jornalista da Fox News Megyn Kelly, com quem o magnata também se envolveu numa polémica depois do primeiro debate com os candidatos republicanos, em Agosto – irritado com as perguntas da jornalista, Trump disse à CNN que Kelly tinha "sangue a sair-lhe dos olhos, sangue a sair-lhe da sua... de onde quer que seja."
"Talvez eu esteja a incomodá-lo um pouco porque estou a subir nas sondagens", disse Carly Fiorina, que classificou as declarações de Trump sobre ela como "muito graves". (Fiorina começou com 1% das preferências em Junho, segundo a sondagem da CNN/ORC, chegou aos 5% e Agosto, logo após o debate, e desceu para os 3% este mês).
Também esta semana, o antigo neurocirurgião Ben Carson referiu-se ao plano de Donald Trump de expulsar todos os imigrantes sem documentos e construir um muro na fronteira com o México: "As pessoas que dizem isso não fazem a mínima ideia do que seria preciso fazer, em termos do nosso sistema legal e de custos. Esqueçam isso."
A resposta de Trump foi dada na CNN: "Ele foi médico, talvez um médico aceitável." (Ben Carson fez parte da primeira equipa que separou gémeas siamesas unidas pela cabeça, em 2003).
Já na Fox News, respondeu directamente à questão sobre o muro: "O muro funciona, especialmente se for feito por alguém como eu, porque eu sei construir muros."
Ouvida pelo The Huffington Post, a jornalista Joy-Ann Reid, da MSNBC, avançou uma tentativa de explicação para o fenómento Trump: "Em parte, o que está a acontecer é uma reacção contra aquilo que uma parte do eleitorado branco e trabalhador vê como uma cultura do politicamente correcto. Sentem que não podem dizer nada, e que qualquer coisa que digam é interpretada como sendo racista, e que não podem criticar um Presidente negro. Donald Trump diz tudo. Pode dizer tudo o que quiser, e assim exorciza esses impulsos."
No artigo da revista Rolling Stone, Matt Boyle, correspondente do site conservador Breitbart News, faz a pergunta para a qual ainda ninguém encontrou resposta: "Como é que Bush e os outros contra-atacam um lutador cujos braços nunca se cansam? Ainda não perceberam como é que isso se faz, e estão a desmoronar-se perante os nossos olhos."