Amorim pede ao exterior ideias inovadoras “fora da rolha”
Linha de financiamento vai conduzir a investimentos de 70 milhões de euros nos próximos dez anos. Entre eles, está a incubadora interna, a Amorim Cork Ventures lança agora um segundo convite ao mercado.
Mas a sorte começa e acaba aqui. Tudo o resto é resultado de trabalho e de perseverança e, sobretudo, de muito investimento em inovação. “Não poderia ser de outra maneira”, diz o empresário, na altura em que explicou ao PÚBLICO as vantagens de ter assinado com o Banco Europeu de Investimento (BEI) uma linha de financiamento para projectos de inovação que garantem ao grupo Amorim um crédito de 35 milhões de euros, para ser executado em dez anos. “Estamos a falar de co-financiamento. Este contrato obriga a investimentos na ordem dos 70 milhões”, explicita António Amorim.
Os fundos do BEI servirão para financiar projectos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em praticamente todas as unidades de negócio da Corticeira Amorim: não só no segmento das rolhas, o mais importante de todos, mas também nos revestimentos, nos aglomerados e compósitos, e nas matérias-primas. E, apesar de a aposta na inovação ser uma realidade no grupo há muitos anos, a administração do grupo cedo entendeu que as ideias mais disruptivas, mais “fora da caixa”, poderiam vir de pessoas externas à empresa e ao seu mercado alvo.
Sendo o segmento das rolhas de cortiça um dos mais importantes para o grupo (pesa 63% do volume de negócios e a empresa produz quatro mil milhões de rolhas por ano), não é propriamente nesta área que a Amorim entrega a inovação em mãos alheias. “Quando falamos de uma rolha, são os requisitos e a performance expectável do mercado que nos faz ter uma determinada vontade de melhorar a performance para provar que a rolha ainda é o melhor vedante. É o mercado que o exige e é a nossa ambição de querer responder sempre com vantagem a outros materiais como o plástico ou o alumínio, e, conhecendo como conhecemos o produto vinho e sabendo a importância que uma rolha de cortiça tem, não descuramos esta área”, explicou o presidente da empresa.
Nas outras áreas de negócio, como os revestimentos, o que a empresa procura é a diferenciação. “As pessoas querem ter as características da cortiça, ao nível do isolamento, do conforto térmico e acústico, mas não vão querer um pavimento de que não gostam ou que não tenham dinheiro para o pagar. Temos de jogar com isso tudo e pensar em factores diferenciadores. Os alemães usam-no no quarto das crianças, mas nós queremos chegar a outras zonas da casa. Se conseguirmos características como ser à prova de água, já conseguimos entrar nas casas de banho e nas cozinhas, que se calhar são as zonas da casa onde os alemães mais investem.”
Ou então procura novos materiais, separando a cortiça nos seus componentes químicos, moleculares, para os purificar e encontrar, por exemplo, substâncias para a indústria farmacêutica ou cosmética. “Se conseguirmos funcionalizar a cortiça com outros materiais compósitos, podemos reforçar características fantásticas que a cortiça tem e levar tudo isto para uma escala diferente”, diz o presidente da empresa.
Foi a pensar em todas estas possibilidades que o grupo criou em 2014 a Amorim Cork Ventures, um acelerador de ideias com o objectivo assumido de fomentar a criação e o desenvolvimento de novos produtos e negócios com cortiça orientados fundamentalmente para os mercados externos. Logo no primeiro ano, recebeu cerca de 100 propostas, não só de Portugal, mas também da Austrália, Itália, Holanda e Reino Unido.
Ideias há muitas, projectos há poucos
A primeira conclusão que o grupo Amorim retirou deste convite a empreendedores e investigadores que estivessem a trabalhar com a cortiça foi a de que existem muitas ideias, mas poucos projectos. “As pessoas têm de passar da ideia ao produto ou serviço. O que faz a Amorim Cork Ventures é ajudar a passar do projecto ao negócio. Vamos fazer incubação, dar formação, vamos ocupar as partes menos criativas do desenvolvimento, como as partes administrativas, contabilísticas, etc., para que a pessoa se possa concentrar na criação da ideia”, explica Amorim.
No modelo de captação da Amorim Cork Ventures foi definido que será feita anualmente uma “chamada” a norte e outra em Lisboa, evitando assim que se percam oportunidades por restrições geográficas relacionadas com a localização dos programas de capacitação. A “chamada” a norte, lançada em Fevereiro, recebeu mais de 40 candidaturas, tendo 12 delas passado para a fase de capacitação. “Foram as que nós achámos que eram boas ideias, mas que ainda não tinham negócio. Uns vão ficar pelo caminho e outros vão chegar à fase do negócio, e quem o vai liderar é o empreendedor. Nós, Amorim, somos o sócio minoritário. Podemos ser maioritário um dia, mas nunca numa fase inicial”, explica o gestor.
Das 12 ideias que passaram pela fase de capacitação, apenas vão avançar cinco projectos, todos nas áreas da construção, soluções de habitação e refrigeração industrial. O grupo Amorim vai investir na incubação destes projectos, dos quais se espera um desenvolvimento até ao final do ano – prototipagem e aprofundamento dos modelos de negócio –, altura em que se tomará decisão de constituição ou não de uma startup.
A segunda “chamada”, a sul, vai ser ser lançada a 10 de Setembro, estando o período de candidaturas aberto até 15 de Outubro. A fase de capacitação das propostas (através de workshops e sessões presenciais) terá início a 29 de Outubro, e a decisão final dos projectos a apoiar só deverá ocorrer na primeira semana de Dezembro.