Alemanha promete tolerância zero contra ataques extremistas a centros de asilo

Violência de neonazis em locais de acolhimento de refugiados aumenta, quando Berlim apela a uma política de asilo comum em toda a União Europeia

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Confrontos entre polícia e manifestantes de extrema-direita na cidade alemã de Heidenau, perto de Dresden Axel Schmidt/Reuters

O fim-de-semana foi marcado por confrontos entre polícia e manifestantes de extrema-direita em Heidenau, perto de Dresden, Leste da Alemanha. Após uma noite em que 31 polícias ficaram feridos, os confrontos continuaram, liderados, segundo a agência Reuters, por umas duas centenas de extremistas bêbados.

Apesar disto, estas acções são mais do que violência gratuita. Houve mapas divulgados online com a localização de centros já a funcionar e centros planeados para acolher refugiados – as autoridades temem que tenham sido publicados por militantes extremistas, para incitar a ataques.

O ministro do Interior prometeu resposta pronta contra quem levar a cabo ataques deste género. “Enquanto vemos uma onda de pessoas a querer ajudar, temos um aumento do ódio, insultos e violência contra as pessoas que pedem asilo. Isto é obsceno, e indigno do nosso país”, disse Thomas de Maizière ao diário de grande circulação Bild. “Quem o fizer enfrentará a força total da lei”, garantiu.

Nos primeiros seis meses deste ano, foram registados mais de 150 ataques incendiários a centros de acolhimento a refugiados em todo o país (segundo o Ministério do Interior, outras fontes nos media falam de 200). Em todo o ano de 2014 houve 170 ataques.

A Alemanha orgulha-se, no entanto, de ser dos países da Europa que mais refugiados recebem (é-o em número absoluto, perdendo o lugar cimeiro se for tida em conta a relação entre população e refugiados acolhidos, no que é ultrapassada pela Suécia). Esse orgulho está em histórias do dia-a-dia: tornou-se viral a notícia do motorista de um autocarro que notou um grupo de estrangeiros, a maioria refugiados, entre os passageiros, e lhes quis dar uma mensagem sentida, no seu inglês simples: “Bem-vindos à Alemanha. Bem-vindos ao meu país.”

Mas Berlim – que espera receber este ano o número recorde de 800 mil pessoas – está a pressionar cada vez mais outros países europeus para também fazerem algo. “É uma vergonha que a maioria dos Estados-membros diga: isto não é nada connosco”, declarou o vice-chanceler e líder dos sociais-democratas Sigmar Gabriel, numa entrevista à estação de televisão ARD.

A grande conquista da abertura de fronteiras, acrescentou, está em risco. A impressão actual, disse, é que poucos países, como a Suécia, Áustria e Alemanha, é que estão a acolher um grande número de refugiados. Retroceder numa questão como esta teria “consequências dramáticas para a Europa”, disse Gabriel, ecoando anteriores palavras da chanceler Angela Merkel que classificou a crise dos refugiados como mais importante para a Europa do que a crise grega.

Num artigo de opinião publicado no Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, Gabriel, que é também ministro da Economia, e Frank-Walter Steinmeier, o ministro dos Negócios Estrangeiros, argumentaram que é necessária “uma repartição justa dos refugiados na Europa”. Falando de um “dever de gerações”, os dois ministros escrevem que “a reacção que aconteceu até agora não está à altura das exigências que a Europa deveria ter de si própria”.

Gabriel e Steinmeier voltaram então a apelar a uma lei comum de asilo, sem diferenças de estado-membro para estado-membro. 

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