Taxa de reprovação de Dilma Rousseff bate recorde histórico
Últimos dados da Datafolha mostram que 71% dos brasileiros consideram o desempenho da Presidente "mau ou péssimo".
A queda abrupta da popularidade da Presidente, avaliada mensalmente pelo instituto de sondagens Datafolha, coloca o seu Governo numa posição ainda mais frágil para conter o fogo cerrado da oposição, que exige nas ruas e no Congresso a resignação de Dilma Rousseff.
As sucessivas revelações do mega-escândalo de corrupção em torno da Petrobras; a recessão económica e o impopular programa de ajuste fiscal desenhado para reequilibrar as contas públicas e a revolta da base aliada no Congresso, que deixou o Governo e o Partido dos Trabalhadores isolados na defesa das suas políticas, têm tido um efeito devastador na governação.
De acordo com os números da Datafolha, 71% dos brasileiros qualificam o Governo de Dilma Rousseff como “mau ou péssimo” (em Junho, essa era a apreciação de 65% dos inquiridos), contra apenas 8% que consideram o desempenho da Presidente como “bom ou óptimo” (e que eram 10% há um mês).
Quanto à eventual demissão da Presidente, a Datafolha mostra que 66% dos entrevistados concordam com a abertura de um procedimento formal para o afastamento de Dilma Rousseff do cargo. E independentemente das opiniões sobre os argumentos para a sua saída ou as dúvidas sobre a sustentação jurídica do processo, 38% dos brasileiros acreditam que a Presidente será destituída pelo Congresso – em Junho, só 29% diziam que Dilma seria impedida de cumprir o mandato até ao fim.
Foi o que aconteceu com Collor de Mello em 1992: o Presidente, enredado numa trama de corrupção, acabou por se demitir do cargo na véspera da votação de uma acção de destituição no Congresso (que veio a ser aprovada, mesmo se apenas simbolicamente). Em Setembro desse ano, quando abandonou a presidência, Collor tinha uma taxa de reprovação de 68%, a mais alta desde que a Datafolha iniciou as pesquisas, em 1990.
Como revela o director da sucursal de Brasília da Folha de São Paulo, Igor Gielow, na capital do país o ambiente está ao rubro: de um lado da trincheira, a oposição já está a contar espingardas para um derradeiro assalto ao poder; do outro, as forças do Governo começam finalmente a montar barricadas e planear a sua defesa à investida anunciada. “Embora o palácio do Planalto mantenha um ar de distanciamento que corresponde pouco com a realidade, três dos principais actores políticos do Governo Dilma Rousseff foram a campo na quarta-feira admitir com franqueza o óbvio: é grave a crise, e no momento, incontrolável”, escreve.
O analista refere-se às declarações do vice-presidente do país, Michel Temer, a quem foi entregue a articulação política entre o Governo e o Congresso, e que perante o avanço da votação de uma série de propostas legislativas destinadas a lançar a confusão no executivo (já chamadas de “pauta-bomba”) veio apelar à “união nacional” para resolver a “difícil situação política e económica.
Além de Temer, cujas palavras também foram lidas como um sério aviso para o seu PMDB (o maior partido no Congresso e principal aliado do PT na base que suporta o Governo), também o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, referiu a necessidade de firmar “acordos suprapartidários” que permitam ao Governo atacar a crise económica – uma mensagem repetida no mesmo dia pelo ministro das Finanças, Joaquim Levy, que dramatizou a posição assumida pelos aliados no Congresso para insistir que não será pela acção do Governo que se verificará uma “ruptura” política.