Petróleo volta a quebrar barreira dos 50 dólares

Indústria petrolífera reduz custos em 164 mil milhões para fazer face à descida dos preços.

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REUTERS/Darrin Zammit Lupi

Ainda não se sabe até onde podem descer os preços do petróleo, com o valor do barril de Brent a quebrar de novo a barreira dos 50 dólares pelo terceiro dia consecutivo, mas já há uma ideia sobre quanto é que a indústria petrolífera vai cortar este ano para fazer face à queda de cotações iniciada no ano passado com o braço de ferro entre a Arábia Saudita e os produtores norte-americanos do shale oil. São números redondos, segundo a Reuters: pelo menos 180 mil milhões de dólares (cerca de 164 mil milhões de euros).

Menos investimento, menos projectos (especialmente os mais caros, como os do Ártico ou das águas ultra-profundas), e mais despedimentos têm sido a tónica dominante. Com os preços em torno dos 50 dólares (o que já não acontecia desde Janeiro) e sem sinais de alteração na estratégia da OPEP, as companhias já se estão a preparar para que os preços baixos estejam para durar. Por isso se prevê que os cortes não fiquem por aqui.

“O tom mudou”, disse recentemente o presidente da Royal Dutch Shell, Ben Van Beurden, admitindo que talvez a companhia não tivesse ainda sabido transmitir a verdadeira “dimensão de urgência” provocada pela crise de preços. Se dúvidas houvesse, ficaram desfeitas há cinco dias, quando a Shell anunciou o despedimento de 6500 trabalhadores (7% da força de trabalho) como parte de um plano de corte de custos de cerca de 3,6 mil milhões de euros.

“Estes são tempos verdadeiramente difíceis para a indústria. De Aberdeen, a Angola e a Houston… parece mesmo que voltámos a 1986”, afirmou também o presidente da BP, Bob Dudley, depois de a companhia ter visto os lucros do primeiro semestre caírem 67%. O gestor referia-se ao período entre 1985 e 1986 em que as cotações do crude caíram abruptamente para cerca de dez dólares por barril quando a OPEP quis proteger a sua quota de mercado dos produtores não-OPEP forçando a indústria a gigantescos cortes de custos.

Nesta reedição da crise de 86, o maior receio vai para o facto de o excesso de oferta no mercado se poder prolongar durante mais tempo. Até porque em 1986 não havia o fenómeno do petróleo de xisto, que tem custos de produção incomparavelmente mais baixos que o petróleo convencional. “Se os preços seguirem o caminho sugerido pela curva de [preços] futuros… a descida será maior que em 1986”, acredita a Morgan Stanley.

Segundo os analistas contactados pela Reuters, os preços deverão estabilizar em torno dos 60 dólares este ano e em 69 dólares em 2017. Em 2020, assumindo que o excesso de oferta se atenua, o preço do barril deverá rondar os 73 dólares, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Apesar de o corte de custos ter permitido ao sector reduzir em cerca de dez dólares o break-even point para cada barril, em 2016 ainda continuará a precisar que cada um seja vendido a 82 dólares para cobrir custos e pagar dividendos. Essa é pelo menos a análise feita pela casa de investimento Jefferies, numa nota divulgada na quarta-feira. “Para cobrir esse intervalo as companhias vão recorrer a financiamentos. Embora o endividamento ainda seja aceitável dentro do sector, não é uma prática que se possa manter indefinidamente”, sublinha a nota, citada pela Reuters.

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