Três jornalistas espanhóis raptados na Síria
Madrid suspeita que grupo de jornalistas esteja nas mãos da Frente al-Nusra, filial da Al-Qaeda. Semanas antes, um jornalista japonês desapareceu no país.
Antonio Pampliega, José Manuel López e Ángel Sastre entraram na Síria a partir da Turquia dois dias antes de desaparecerem. Os jornalistas freelance estavam em Aleppo quando se perdeu o contacto. O Governo espanhol suspeita que estejam sob o poder dos extremistas da Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria que disputa a cidade com o regime de Bashar al-Assad.
Apesar de reconhecer que há indícios de que os jornalistas estejam “detidos”, o Executivo espanhol não quer por enquanto dar como certo o sequestro. O ministro espanhol da Justiça, Rafael Catalá, citado pelo El País, diz que há primeiro que saber “o que é que se passou”, quem os deteve, “com que objectivo” e se “procuram um resgate”.
O Governo espanhol, que tentou manter em segredo o desaparecimento dos três homens para não aumentar o valor de um possível resgate, assegurou na terça-feira que utilizará “todas as medidas” ao seu dispor. No passado, o Executivo já conseguiu a libertação de outros três repórteres espanhóis sequestrados na Síria com a intervenção dos seus serviços secretos.
As famílias dos três homens, escreve o El País, pedem “paciência, respeito e discrição”.
O desaparecimento dos jornalistas espanhóis acontece pouco depois de se perder o rasto também a Jumpei Yasuda. O repórter japonês contactou pela última vez um seu colega freelancer, Kosuke Tsuneoka, no dia 23 de Junho.
Desde então, nada se sabe de Yasuda, que foi raptado uma primeira vez em 2004, no Iraque. Na sua última publicação no Twitter, a 20 de Junho, Jumpei Yasuda dizia que o Norte da Síria se estava a tornar num local cada vez mais perigoso.
O rapto de cidadãos estrangeiros e jornalistas é uma das principais fontes de dinheiro para os grupos armados na Síria. Só em 2014 foram raptados 24 jornalistas no país, segundo os dados dos Repórteres Sem Fronteiras. Destes, 20 continuavam detidos no final do ano passado, a maioria repórteres locais que, estima-se, estarão nas mãos do autoproclamado Estado Islâmico.
Uma reportagem publicada em 2014 pelo New York Times revelou que só a Al-Qaeda e os seus grupos afiliados angariaram 125 milhões de dólares desde 2008. A maior fatia deste valor vem de Governos europeus.
Desde o início da guerra civil na Síria, em 2011, já morreram 84 jornalistas no país, segundo os cálculos do Comité para a Protecção de Jornalistas (CPJ). Segundo o CPJ, os métodos de perseguição a repórteres têm-se tornado “mais brutais” com a evolução do conflito. No início da guerra, a maioria dos jornalistas que morriam na Síria – “cerca de 75%” – eram vítimas de “situações de combate”. Agora, diz a organização, há mais perseguição e mais assassinatos – 18% do total de mortes.
Tudo isto tem consequências para a informação pública. "O país tornou-se num buraco negro de informação", escreve o CPJ, que explica que a situação se tornou demasiado perigosa e que "vários meios internacionais não aceitam já o trabalho de freelancers na Síria". "Temos visto jornalistas estrangeiros a deixar de entrar na Síria e jornalistas locais a fugirem de lá", conclui a organização.