Grécia reabre os bancos e começa a reembolsar credores

Atenas gastou quase todo o empréstimo de transição para saldar dívidas com FMI e BCE. Controlos de capitais toldam reabertura dos bancos.

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Ao fim de três semanas, os bancos reabrem na Grécia, carregados ainda com controlos de capital Alkis Konstantinidis / Reuters

Nas ruas, as imagens de gregos enfileirados diante de caixas multibanco foram substituídas por filas às portas de sucursais bancárias. “As coisas estão melhores do que nas últimas semanas”, disse à Reuters Maria Papadopoulou, reformada de 62 anos que esperava numa das filas de Atenas. “Vim pagar as minhas contas e impostos hoje. Na semana passada não pude e tudo isto é muito cansativo para as pessoas mais velhas, como eu.”

Antecipava-se um possível clima de tensão diante dos bancos. Mas não se viram episódios de agitação nem grandes multidões. Há um número considerável de pessoas, escreve a AFP, mas não uma “afluência excepcional”.

Os bancos estão abertos, mas os controlos de capital não permitiram que a bolsa de Atenas regressasse à actividade. Os gregos não podem ainda levantar cheques, apenas depositá-los na sua conta bancária, e prosseguem restrições às transferências para fora do país e gestão das contas.

Por essa razão, a decisão de reabrir os bancos é em parte vista como um gesto simbólico. Alguns gregos esperavam mais. Grigoris, reformado de 70 anos, não conseguiu os 300 euros a que teria direito até sexta-feira. “Explicaram-me que teria de esperar até ao fim da semana”, contou à AFP, “desolado”, nas palavras da agência.

“Isto não é uma vida normal”, disse no domingo a chanceler alemã, Angela Merkel, falando das restrições bancárias na Grécia e apelando a um desfecho rápido das negociações para o novo empréstimo, que começam esta semana. Em cima da mesa para o pacote de financiamento, que pode atingir os 86 mil milhões de euros, estarão temas sensíveis como o agravamento da austeridade e a possibilidade de uma reestruturação da dívida grega.

Empréstimo esgotado
O acordo da semana passada com os credores deu um balão de oxigénio a Atenas sob a forma de um empréstimo de transição no valor de 7160 milhões de euros. Essa quantia chegou nesta segunda-feira ao tesouro grego e, numa questão de horas, o Executivo usou-o quase todo para reembolsar credores.

Para além dos empréstimos ao BCE e FMI, o Governo grego teve também de pagar 500 milhões de euros ao seu próprio banco central. Ao todo, a Grécia reembolsou só nesta segunda-feira cerca de 6800 milhões de euros, de acordo com um responsável do Ministério das Finanças grego à Bloomberg.

O dinheiro emprestado pelos credores para pagarem a si próprios cumpriu uma função fundamental: a Grécia deixou de estar em incumprimento com estas duas entidades. Desta forma, tem de novo acesso ao financiamento do FMI e o BCE continuará a financiar a liquidez dos bancos gregos.

A pressão sobre Atenas continua a ser alta. Os cidadãos começaram esta segunda-feira a sentir os efeitos do acordo com os credores no IVA – que aumentou de 13% para 23% nos bens não perecíveis e na restauração, mas também nos táxis, nos preservativos ou até nos funerais. Algumas decisões são surpreendentes, como a carne de porco ser taxada a 13% e a de vaca a 23%, diz a AFP. O Governo espera obter receitas suplementares anuais de 2400 milhões de euros anuais a partir de 2016 e de 795 milhões já este ano.

Na quarta-feira, o Governo liderado por Alexis Tsipras tem mais um teste no Parlamento. Espera-se que fique novamente dependente do voto da oposição para aprovar novas medidas na Justiça e sector bancário, devido à revolta de vários deputados no seu partido, o Syriza,

Na quinta-feira, 39 deputados do Syriza votaram contra as medidas de austeridade que Tsipras aceitou frente aos parceiros europeus, apesar de este ter sido aprovado com uma maioria expressiva – 229 votos favoráveis contra quatro abstenções e 64 votos contrários – com o apoio da oposição.

Caso se mantenham as divisões, o apoio parlamentar ao Governo de Tsipras na quinta-feira pode cair para os 123 deputados, valor que está abaixo da maioria de 151 assentos e, como escreve a Reuters, próximo dos 120 votos que a Constituição grega exige como o mínimo para um Executivo minoritário. 
 

   

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