Exército egípcio trava o ataque jihadista mais mortífero de sempre no Sinai
Braço do Estado Islâmico no Sinai tentou invadir Sheikh Zuweid. Exército do Egipto diz que matou mais de 100 jihadistas, mas os seus números são contestados.
Os números levantam dúvidas. Ao longo da tarde, as informações que circulavam vindas de fontes não identificadas dentro do Exército diziam que tinham morrido cerca de 70 soldados e civis egípcios. A embaixada norte-americanano Cairo fala de “dezenas de funcionários egípcios” mortos. As estimativas iniciais do Exército apontavam para a participação de 70 combatentes islamistas no ataque. Mais tarde, este número cresceu para os 300.
Durante a manhã, o grupo islamista conhecido como Província do Sinai atingiu vários locais com carros bombas e vagas de artilharia. Durante várias horas, o grupo parece ter tentado ocupar Sheikh Zuweid, cidade onde os jihadistas cercaram e armadilharam a esquadra da polícia. Os jihadistas plantaram também bombas nas principais vias de acesso à cidade, para evitar a chegada de reforços do Exército egípcio, e capturaram veículos, armas e munições.
“Não podemos sair das nossas casas”, dizia durante a tarde Suleiman al-Sayed à Reuters, residente em Sheikh Zuweid. “Há pouco vi cinco carrinhas com homens armados e mascarados a acenarem bandeiras negras.”
A situação pareceu estar longe do controlo do Exército durante algumas horas, mesmo com o apoio de jactos F16 e helicópteros Apache no ar. Aos ataques em Sheikh Zuweid juntou-se uma grande explosão sentida nos arredores da cidade de Rafah, na fronteira com a Faixa de Gaza. Israel fechou a sua fronteira com o Egipto e enviou tanques para a linha do Sinai.
Sinai em tumulto
É o ataque mais mortífero na região conduzido por um grupo islamista. Desde 2011 que a Península do Sinai é contestada por vários grupos que quiseram tirar proveito da queda de Hosni Mubarak e reclamar esta região-chave, em contacto com o canal do Suez e fronteiras de Israel e Faixa de Gaza.
Mas os grandes atentados começaram em meados de 2013, quando Mohamed Morsi, que governava o Egipto com o apoio do partido criado pela Irmandade Muçulmana depois da queda de Mubarak, foi arrancado do poder por um golpe do general Abdel al-Sisi, agora Presidente do Egipto. Al-Sisi ilegalizou então a Irmandade Muçulmana, deteve e condenou à morte centenas dos seus apoiantes. Este controlo existe ainda hoje. Também nesta quarta-feira, nove membros da Irmandade Muçulmana foram mortos no Cairo pela polícia.
Ao cerco de al-Sisi às organizações islâmicas, os extremistas responderam com violência. Desde que al-Sisi se tornou Presidente do Egipto, já cerca de 600 polícias e militares morreram em ataques comandados por grupos islamistas, a maioria no Sinai.
O Ansar Bait al-Maqdis era o grupo mais mortífero da região. No final de 2014, o grupo jurou lealdade ao autoproclamado Estado Islâmico e mudou o nome para Província Sinai, recebeu novo armamento e mudou de lógica operacional. Passou a lançar ataques em grande escala. Em Janeiro, o Província Sinai matou 24 soldados, seis polícias e 14 civis naquele que era, até ao momento, o seu maior ataque na região.
No combate contra os grupos extremistas que formigam na região, o Exército destruiu túneis que faziam a ligação com a Faixa de Gaza, onde operam algumas organizações, e aumentou o policiamento junto à fronteira com Israel. Ao longo dos últimos seis meses, o Exército egípcio lançou várias operações militares contra grupos extremistas. Uma delas, em Fevereiro, terá matado 24 combatentes do Província Sinai.
A presença do Exército egípcio no Sinai está condicionada pelos acordos de paz com Israel de 1979, mas os israelitas têm permitido que Cairo envie reforços para a região para combater a insurreição. Segundo a Reuters, a violência do ataque desta quarta-feira pode fazer com que os acordos sejam revistos. “Este incidente pode alterar tudo”, disse um responsável israelita à agência, sem se identificar.