EUA entram em campo com a expressão "alívio da dívida"
Comissão Europeia publica documento com as últimas propostas apresentadas à Grécia, que incluíam uma taxa de 13% sobre a actividade dos hotéis.
A chanceler alemã, Angela Merkel, passou o dia ao telefone com vários líderes internacionais, com destaque para o Presidente dos EUA, Barack Obama.
Merkel e Obama entendem que a manutenção da Grécia na zona euro é de "importância crítica", segundo um comunicado divulgado pela Casa Branca. "Os dois líderes disseram que as suas equipas de economia estão a acompanhar com cuidado a situação, e vão manter-se em contacto", tendo ambos defendido a necessidade de a Grécia "retomar as reformas e o crescimento no âmbito da zona euro".
Do outro lado do Atlântico chegaram as palavras mais ousadas, proferidas pelo secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew. O responsável sublinhou a necessidade de a Grécia ter de aprovar "medidas difíceis", mas falou também num "possível alívio da dívida grega, à medida que se aproxima o referendo de dia 5 de Julho".
"É do interesse da Grécia, da Europa e da economia mundial que seja encontrada uma solução duradoura", disse o secretário do Tesouro, depois de conversas com vários responsáveis, entre os quais os ministros das Finanças da Alemanha e de França e a directora-geral do Fundo Monetário Internacional.
Enquanto se multiplicavam as declarações de líderes europeus e norte-americanos, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, usava a rede social Twitter para reafirmar a sua determinação em bater o pé às propostas dos credores internacionais, tentando conquistar apoio entre os vários povos europeus.
"A dignidade do povo grego perante a chantagem e a injustiça vai enviar uma mensagem de esperança e orgulho a toda a Europa", escreveu Tsipras, pouco depois de ter citado o antigo Presidente dos EUA Franklin D. Roosevelt, no seu discurso de investidura em 1933: "Nestas horas críticas, é preciso ter presente que a única coisa que temos a temer é o próprio medo."
Também a Comissão Europeia tentou jogar mais um trunfo no domingo, ao revelar na íntegra a proposta dos credores que estava a ser negociada na noite de sexta-feira, antes de o primeiro-ministro grego ter anunciado que iria convocar um referendo.
O documento contém dez pontos, relativos às áreas em que a troika exige reformas – dos impostos à justiça, passando pelas pensões. Nesta última área, confirma-se que a troika exige a "aplicação imediata" do aumento da idade da reforma para 67 anos, até 2022.
Mas a principal novidade é que a última proposta previa a aplicação de uma taxa de 13% sobre os hotéis (e bens alimentares de primeira necessidade, energia e água), e não os 23% que a troika exigia antes. No entanto, as diferenças entre o Governo grego e os seus credores há muito que não se limitavam à questão dos impostos, e as negociações foram enterradas no sábado – segundo as instituições europeias e o FMI, a culpa foi do Governo grego, que convocou um referendo sobre as propostas que estavam em cima da mesa, entendido como uma decisão "unilateral" de abandonar o diálogo; para Atenas, a culpa é das instituições, já que o que melhor que tinham para oferecer era "a humilhação do povo grego".
A "transparência" foi o argumento apresentado pela Comissão Europeia para revelar a última proposta que a troika enviou para cima da mesa da Grécia, mas o texto do comunicado aponta mais longe, para o referendo do próximo domingo: "Em defesa da transparência e da informação do povo grego, a Comissão Europeia publica as mais recentes propostas acordadas entre as três instituições, que levaram em consideração as propostas apresentadas pelas autoridades gregas nos dias 8, 14, 22 e 25 de Junho, incluindo as conversações políticas e técnicas que decorreram durante toda a semana."
Em resposta, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, revelou no seu blogue tudo o que disse aos seus colegas da zona euro na reunião de sábado, que selou o fim das negociações.
"O que torna impossível a aprovação no Parlamento da proposta das instituições", disse, "é a ausência de uma resposta à questão: estas medidas dolorosas vão dar-nos um período de tranquilidade para aplicar as reformas acordadas? Será que um choque de optimismo vai contrariar o efeito recessivo da consolidação fiscal extraordinária que está a ser imposta a um país que está em recessão há 21 trimestres consecutivos? A resposta é clara: não, a proposta das instituições não criam esta expectativa."