Maria Barroso encontra-se em coma
Maria Barroso, mulher do ex-Presidente da República Mário Soares, encontra-se no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.
Em declarações à RTP, o sobrinho de Maria Barroso, o médico Eduardo Barroso, afirmou que o estado de saúde da tia "é muito grave" e "está em coma profundo".
Maria Barroso, 90 anos, casou-se com Mário Soares em 1949, de quem tem dois filhos, João e Isabel. Foi uma das fundadoras do Partido Socialista, liderado por Mário Soares, em Bad Münstereifel, na Alemanha, em 1973. Um dos seus últimos cargos públicos foi a presidência da Cruz Vermelha Portuguesa, tendo também dirigido a associação Pro Dignitate, que ajudou a fundar, refere a Lusa. Dirigiu do Colégio Moderno, uma instituição de ensino privado em Lisboa, uma função que, a partir de determinada altura, foi partilhada com a filha, Isabel Soares. Durante a ditadura, foi proibida de dar aulas, refere a Lusa.
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde conheceu o futuro marido, Mário Soares. Antes do 25 de Abril de 1974, foi candidata da Oposição Democrática, nas eleições de 1969. Com a democracia, foi eleita deputada pelo Partido Socialista nas eleições de 1976, 1979, 1980 e 1983.
Quando completou 90 anos, em Maio deste ano, Luís Osório, num editorial do jornal i, escrevia sobre Maria Barroso que, apesar de ser sempre associada a Mário Soares, com quem leva 70 anos de vida em comum, conseguiu manter a sua independência. "Votou, por exemplo, contra Soares nos dias da fundação do Partido Socialista e aproximou-se da Igreja Católica nos anos a seguir ao desastre do filho João em Angola. "
Declama poesia na igreja
Vítor Feytor Pinto, pároco da igreja do Campo Grande, onde Maria Barroso vai à missa todos os domingos, afirma que “é uma paroquiana que participa intensamente na vida da comunidade”. Trazendo para o presente o seu percurso de actriz, Maria Barroso ensina a ler ao microfone a quem faz as leituras na missa, tanto em termos de dicção como de projecção de voz, explica. Em festas da paróquia, declama poesia.
Nos domingos de missa, "chega sempre uma hora antes da missa, é de uma grande ternura, atende e fala com toda a gente que venha ter com ela. É um exemplo muito bonito de uma cristã que pratica o amor aos outros”.
Em Maio deste ano, numa entrevista ao i, Maria Barroso lembrou os seus tempos de infância, numa família de sete irmãos. “A minha irmã tem uma fotografia em que estou com a minha mão na mão do meu pai, não teria mais de dois anos, e estávamos na penitenciária onde ele estava preso por razões de ordem política. Foi tantas vezes preso... Mandaram-no para o Forte de Angra do Heroísmo e, quando o meu marido era Presidente da República, visitámos o forte e, a certa altura, olhei para uma parede e estava escrito “Tenente Alfredo Barroso”, com a letrinha do meu pai. Fiquei emocionada.”
Maria Barroso fez o curso no Conservatório, sendo aluna, por exemplo, de Maria Matos. Ingressou no elenco do Teatro Nacional, na companhia de Amelia Rey Colaço/Robles Monteiro. "Ficou memorável a interpretação na peça de José Régio Benilde e muitas outras representações suas", lê-se num artigo de opinião do jornalista António Valdemar, no PÚBLICO. No cinema, entrou em vários filmes de Paulo Rocha (Mudar de Vida) e de Manoel de Oliveira (Le Soulier de Satin, Amor de Perdição, e Benilde ou a Virgem Mãe).