Ataque informático contra EUA atinge militares e agentes dos serviços secretos
Depois de terem sido roubados ficheiros de funcionários federais, agora foi revelado um ataque contra o Formulário 86, que tem perguntas sensíveis sobre candidatos a cargos na segurança nacional.
O que está em causa é o acesso a uma autêntica mina de informação pessoal sobre milhões de norte-americanos, muitos deles com cargos importantes para a segurança nacional do país.
Depois de um primeiro ataque contra os ficheiros guardados no Gabinete de Gestão Pessoal norte-americano (que administra os funcionários federais e atribui centenas de milhares de acreditações por ano), desta vez foram abertas e vasculhadas as bases de dados que guardam pormenores sensíveis sobre pessoas que se candidatam a funções em várias agências da segurança nacional.
Um dos maiores receios das autoridades norte-americanas é que os autores do ataque possam usar a informação extraída para fazer chantagem, mas em último caso até a identidade de alguns espiões dos EUA poderá estar em risco de ser revelada.
Não é ainda possível identificar os autores do ataque, mas o seu alcance e o seu grau de sofisticação indicam que estará por trás um Estado, quer seja directamente através das suas unidades de espionagem, quer seja através da contratação de grupos de hackers que vendem os seus serviços. Oficialmente nenhum responsável da Administração Obama apontou o dedo à China, mas as declarações anónimas citadas pelos principais jornais norte-americanos mostram que a Casa Branca não tem dúvidas de que foi de lá que partiram estes ataques – uma acusação que o Governo chinês já refutou e descreveu como “irresponsável”.
Joel Brenner, antigo inspector-geral da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla original), deu força a essa acusação, sublinhando que os dois ataques da última semana “dão às autoridades chinesas as identidades de quase todas as pessoas que têm algum tipo de autorização de segurança nos Estados Unidos”.
“Isso faz com que essas pessoas tenham muitas dificuldades para trabalharem como funcionários dos serviços secretos. É uma mina de ouro. Ajuda-os a abordar e a recrutar espiões”, disse Brenner à agência Associated Press.
Segundo as investigações, que ainda estão em curso, os hackers podem ter acedido à base de dados onde estão guardados os documentos conhecidos como Formulário 86 – um questionário com 127 páginas que todos os candidatos a funções na área da segurança nacional têm de responder, e que tem carácter eliminatório.
Para além de informações como nome, idade, morada e número de telefone, desse questionário fazem parte várias perguntas sensíveis, como “Deixou de pagar algum empréstimo nos últimos sete anos?”; “Alguma vez procurou aconselhamento ou tratamento como resultado do uso de álcool?”; ou “Consumiu alguma droga de forma ilegal nos últimos sete anos?”
Mas o Formulário 86 não inclui apenas perguntas sobre o candidato – são várias as perguntas e pedidos de informações pessoais sobre familiares, incluindo nomes, moradas e números da Segurança Social.
Também as consequências do primeiro ataque, revelado há pouco mais de uma semana, serão muito maiores do que se pensava. Dos cerca de quatro milhões de actuais e antigos funcionários federais (com funções em outras áreas que não a segurança nacional) que se julgava terem visto os seus dados expostos, as estimativas apontam agora para 14 milhões, segundo a AP.
Para agravar ainda mais o problema, os números da Segurança Social que os hackers retiraram das bases de dados não estavam codificados, diz a Federação Americana dos Funcionários do Governo, que classifica este facto como “uma falha abissal da parte da agência em relação aos dados que lhe foram confiados pelos trabalhadores federais”.
O antigo inspector-geral da Agência de Segurança Nacional norte-americana Joel Brenner concorda: “Ter informação deste tipo não codificada é vergonhoso. Andamos a receber chamadas de atenção nos últimos 20 anos, e continuamos a adiar o problema.”