Num país traumatizado pelo sismo, as escolas começaram a reabrir no Nepal

Um mês após o terramoto, as aulas vão começar por ser jogos e discussões para ajudar na recuperação do trauma.

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Estudantes meditam numa das primeiras aulas após o terramoto Navesh Chitrakar/Reuters

Estudantes mais novos e mais velhos, de fardas, saíam de autocarros amarelos para edifícios ainda de pé, ou andavam entre escombros e pó até chegarem às escolas temporárias. “Estou nervoso. É difícil ver a minha escola em ruínas”, confessava Shasham Shresta, estudante de uma escola secundária de Katmandu, à agência Reuters.

“Ainda há réplicas. É difícil não ficar preocupada ao mandar de novo as crianças para a escola”, dizia pelo seu lado à BBC Mina Shrestha, mãe de um aluno da escola primária. “Mas garantiram-me que era seguro e pelo menos ele vai distrair-se a ver os amigos e a estudar.”

A Unicef diz que as necessidades para as crianças são ainda enormes – estima-se que mais de 70 mil crianças com menos de cinco anos precisem de apoio nutricional urgente, e nas áreas mais afectadas cerca de 1,7 milhões de crianças continuam a precisar de ajuda urgente. Mas o Governo quer começar as aulas com actividades de grupo para ajudar a que recuperem do trauma da catástrofe. “As crianças estão muito felizes por estarem a lidar com tipos diferentes de materiais”, diz o especialista em desenvolvimento Shiva Bhusal. Em algumas escolas, a aula começou com meditação.

A maioria das escolas vai funcionar em locais temporários, construídas com bambu, madeira e lonas. Foram construídos 137 centros temporários de aprendizagem para 14 mil crianças. Trabalhadores humanitários dizem que serão precisos 4500 centros. 

Algumas aulas vão decorrer em edifícios marcados a verde, o sinal de que são seguros. Mas, conta a agência norte-americana Associated Press, o critério de segurança é arbitrário e há edifícios em que um inspector passou e marcou verde, para a seguir vir outro inspector e marcar vermelho.

“A educação não pode esperar por toda a recuperação e reconstrução”, diz Tomoo Hozumi, representante da Unicef no Nepal. Abrir escolas, mesmo que temporariamente, ajuda à recuperação de crianças em stress e diminui o risco que enfrentam, por exemplo de serem traficadas, e os seus pais podem voltar ao trabalho. Um responsável do ministro da Educação, Lavadeo Awashti, estima que os centros temporários tenham de servir um período de cerca de dois anos, quando dizem que as escolas antigas devem estar reconstruídas.

O terramoto destruiu mais de 32 mil salas de aula em mais de  8000 escolas. Das escolas que se mantiveram de pé, várias servem para abrigo para quem ficou sem tecto – estima-se que 3 milhões de pessoas tenham ficado sem casa. Muitos acampam em dois grandes parques nas margens dos rios e nas estradas principais.

O Governo suspendeu a proibição de cortar madeira para que as pessoas sem abrigo possam fazer as suas próprias tendas.

A estação das chuvas começa dentro de algumas semanas. Isto quer dizer que os agricultores deveriam agora estar a colher o trigo e preparar-se para plantar outras culturas. Como as sementes e os utensílios para as plantações estão ainda sob escombros, há um grande risco de novos deslizamentos de terra. Muitas pessoas, regressando a casa para tentar salvar bens ou pessoas, acabaram soterradas em deslizamentos, diz o monge nepalês Trungram Gyaltrul Rinpiche no Huffington Post.

Para piorar os esforços de reconstrução, mais de 300 mil pessoas, na maioria trabalhadores imigrantes indianos ou nepaleses de outras regiões, saíram de Katmandu após o terramoto. Muitos trabalhavam em construção.

As Nações Unidas e o Governo nepalês apelam para mais ajuda – dos 423 milhões prometidos, o país recebeu apenas 9,4 milhões.

Enquanto a questão começa a diminuir de importância nas notícias, o ritmo de chegada dos donativos também abrandou. Mas a terra continua a tremer, as chuvas vão deslocar terras instáveis, e há regiões onde há ainda muitos corpos soterrados sob escombros.

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