Ainda há milhões de pessoas com fome no mundo, mas são cada vez menos
Relatório da ONU anuncia uma descida de 216 milhões de pessoas em situação de fome, desde 1992. Erradicação é o grande objectivo.
Para além da FAO, também participaram na elaboração do relatório o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Alimentar Mundial (PAM). Dos 129 países monitorizados, 72 atingiram um dos Objectivos para o Desenvolvimento do Milénio (ODM), propostos em 2000 pelas Nações Unidas, de reduzir para metade a prevalência de desnutrição até 2015.
“O alcance das metas dos ODM para a fome demonstra que podemos eliminar este flagelo ainda durante a nossa era”, afirmou José Graziano da Silva, director-geral da FAO, num comunicado no site da organização, acreditando que a erradicação da fome no mundo não é um objectivo utópico. Para o atingir, entende que tal convicção “tem de fazer parte de todas as políticas adoptadas” e que esta geração tem todas as condições para se tornar a “geração Fome Zero”, em alusão ao conhecido programa brasileiro.
A FAO admite, porém, que não existe uma solução única ou perfeita para melhorar a segurança alimentar e acabar com a fome, mas aponta alguns factores que podem ajudar a atingir esse objectivo, desde que assentes em “estabilidade” e “vontade política”. O desenvolvimento da produtividade agrícola, o crescimento económico inclusivo e orientado para a redução da fome e o alargamento da protecção social são os principais factores de sucesso referidos pela FAO. O relatório diz mesmo que uma protecção social eficiente previne que, actualmente, cerca de 150 milhões de pessoas caiam na extrema pobreza.
O progresso da América Latina e Caribe
No continente asiático, os resultados são diversos. Os países do Leste e Sudeste da Ásia obtiveram uma rápida redução dos indicadores da fome, muito por causa do crescimento económico e do investimento em infra-estruturas sanitárias. Na região central sulista do continente, a diminuição dos valores foi menos acentuada, mas a FAO enfatiza os progressos na redução dos números de crianças com peso a menos ou insuficiente. Nos países do Médio Oriente, a evolução dos indicadores continua a ser lenta, influenciada pelos conflitos civis e militares que decorrem na Síria, no Iraque e no Iémen.
Os maiores progressos na redução da fome e na melhoria da segurança alimentar registam-se, segundo o relatório, na América Latina e no Caribe. Desde 1990 que a proporção de população com fome reduziu drasticamente, de 14,7% para os actuais 5,5%. A FAO fala num “forte compromisso político” para a diminuição da fome na região, acompanhada por um crescimento económico considerável. Também o número de crianças com peso insuficiente diminuiu.
O continente africano é aquele onde se regista a “maior prevalência de subnutrição e desnutrição no mundo”. Ainda que alguns países da África-Ocidental tenham investido na produção agrícola e em infra-estruturas básicas, encontrando-se entre os que mais evoluíram a nível mundial, o continente como um todo continua a apresentar os números mais preocupantes. Segundo o relatório, uma em cada quatro pessoas da região subsariana padece de subnutrição.
A FAO revela também que a insegurança alimentar apresenta os seus valores mais problemáticos na Síria, no Iraque, no Iémen, no Mali, na República Democrática do Congo, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul.
Texto editado por Joana Amado