Inspectora da PJ condenada a 17 anos de prisão por ter matado a avó do marido
Ana Saltão tinha sido absolvida há poucos meses em primeira instância. Tribunal de Coimbra considerava que não existiam provas suficientes, mas o Ministério Público recorreu e a Relação condenou.
A condenação acontece oito meses depois de a inspectora ter saído do Tribunal de Coimbra absolvida pelos juízes da mesma acusação. A advogada adiantou ao PÚBLICO que vai recorrer da decisão para o Supremo Tribunal de Justiça. O volte face no processo aconteceu depois de o Ministério Público ter recorrido da absolvição em Setembro.
Ana Saltão tinha sido absolvida em primeira instância face à ausência de provas de que tivesse sido ela a assassinar a mulher de 80 anos. Os juízes seguiram então o princípio legal que manda, em caso de dúvida, absolver o arguido. “É mínima a probabilidade de a arguida ter cometido os crimes nos termos da acusação", disse então o presidente do colectivo de juízes, ao terminar a leitura do acórdão, sugerindo que a equipa da Judiciária de Coimbra que conduziu a investigação cometeu alguns erros na obtenção da prova.
"Há aqui coisas que ainda hoje não estão esclarecidas" e para as quais "ainda hoje não temos resposta", acrescentou o juiz, avisando Ana Saltão de que teria de se apresentar ao serviço na Polícia Judiciária do Porto.
Foi em Novembro de 2012 que a idosa foi atingida com 14 tiros num apartamento na zona de Celas, Coimbra. A ausência de sinais de arrombamento fizeram a PJ suspeitar da família da vítima. Para as autoridades, na origem do crime terão estado razões de ordem económica. O Departamento de Investigação e Acção Penal imputou à inspectora os crimes de homicídio qualificado e peculato, este último por causa do alegado roubo de uma pistola de uma colega de trabalho da suspeita para matar a octogenária.
Casada com outro inspector da PJ, Ana Saltão estava de baixa médica quando ocorreu o crime, por ter sido operada há pouco tempo. Alegou que os resíduos de pólvora encontrados pelos colegas encarregues do caso nas mangas do seu casaco surgiram por a peça de roupa ter sido contaminada por estes, por falta de cuidado no seu manuseamento.
Nas alegações finais, que se realizaram a 16 de Julho, o Ministério Público pediu a pena máxima de 25 anos por homicídio qualificado para a inspectora, por considerar que revelou "premeditação e frieza de ânimo". O procurador Jorge Leitão acusou Ana Saltão de ter cometido "um crime hediondo".