EUA investigam o presidente da Assembleia da Venezuela por tráfico de droga

Diosdado Cabello é talvez o homem mais poderoso do país, rivalizando com o Presidente Maduro.

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Diosdado Cabello e outras altas figuras do regime transformaram a Venezuela num narcoestado, dizem as autoridades americanas Marco Bello/REUTERS

A investigação está a ser realizada por uma unidade especial da Agência de Luta contra o Narcotráfico dos Estados Unidos (DEA) e por procuradores federais de Nova Iorque e Miami, avança o diário The Wall Street Journal (WSJ), citando mais de uma dezena de fontes próximas do inquérito.

A tese dos investigadores é que a Venezuela foi transformada num “narcoestado”, que não produz a folha de coca nem cocaína, mas que se tornou numa plataforma giratória para a distribuição desta droga para os EUA e para a Europa. Os EUA calculam que cerca de 131 toneladas de cocaína – cerca de metade do total produzido na Colômbia – tenha passado pela Venezuela em 2013, diz o WSJ.

Apoiada na conivência de governantes e generais chavistas, a Venezuela assumiu um papel cada vez maior na última década, como um contrapeso ao esforço dos EUA na luta contra o narcotráfico na Colômbia: desde 2000, Washington canalizou para Bogotá dez mil milhões de dólares para combater o tráfico, diz o jornal. “A maior parte dos traficantes de alta escala mudaram-se para a Venezuela na última década”, disse ao WSJ Joaquín Pérez, um advogado de Miami que representa traficantes colombianos que reconheceram operar a partir da Venezuela.

O que a investigação norte-americana está a descobrir é que em Caracas os narcotraficantes encontraram um Governo e um exército disposto a fechar os olhos às suas actividades – até mais do que isso, a participar no negócio e a partilhar dos lucros. Diosdado Cabello, que já foi também ministro das Obras Públicas e da Habitação, bem como do Interior, teve controlo sobre os aeroportos e infra-estruturas portuárias – uma capacidade conveniente para o narcotráfico, notam as fontes do WSJ.

O poder de Diosdado Cabello é enorme – rivaliza mesmo com o do actual Presidente Nicolás Maduro, que não é visado nesta investigação. Também tem um programa de televisão – chamado Dando com o Martelo – onde costuma apresentar escutas telefónicas de opositores, e dificilmente alguma vez chegará a um acordo judicial com os EUA.

Na semana passada, Diosdado Cabello anunciou ter pedido um mandado para impedir que 22 executivos e jornalistas de três empresas de media venezuelanas viajassem para o estrangeiro, por publicarem notícias acerca destas suspeitas, que já andam no ar há mais tempo. “Acusam-me de ser um traficante de droga sem uma única prova e agora sou o mau da fita”, afirmou na televisão. “Sinto-me ofendido, e nenhum me pediu desculpa”.

Nos últimos dois anos, com o agravamento da crise económica venezuelana, tem sido mais fácil para os EUA encontrarem informadores dispostos a testemunhar. O capitão da Marinha Leamsy Salazar, que desertou em Janeiro para os EUA dizendo ter sido o responsável pela segurança pessoal de Diosdado Cabello, foi uma das fontes mais importantes: contou ter visto o ex-chefe a supervisionar a partida de um grande carregamento de cocaína. Na rádio, Diosdado Cabello chamou-lhe um “infiltrado” sem provas do que diz. Outra fonte de peso foi Rafael Isea, ex-ministro das Finanças: terá dito aos investigadores que Walid Makled, um traficante que foi preso e condenado, subornou o antigo ministro do Interior venezuelano, Tarek El Aissami, para fazer passar transportes de droga através da Venezuela.

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