Mia Couto surpreendido por ser finalista do Man Booker Prize

Escritor moçambicano está em Castelo Branco para ser homenageado.

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Mia Couto

"Eu acho que não se devem homenagear os escritores. E, se eu estou aqui, é porque sinto que quem está, eventualmente, a ser homenageado é alguma coisa que é muito mais importante que os escritores, são os livros, a leitura e essa relação de intimidade que a leitura proporciona", afirmou Mia Couto.

"Acho que a homenagem é esta relação de encontros que a literatura proporciona, este clima de conversa, de reencontro", disse. Entrevistado pelo moderador Tito Couto, o escritor moçambicano explicou que "quando se escreve, escreve-se para atingir o outro" e confessou que se é alguma coisa, é um poeta.

O escritor moçambicano Mia Couto disse à agência Lusa que ficou surpreendido com a nomeação para os dez finalistas do Man Booker International Prize e adiantou que nunca pensou que o seu nome pudesse ser considerado sequer.

"É uma grande surpresa. Em primeiro lugar, nunca pensei que o meu nome pudesse ser considerado sequer", afirmou o escritor moçambicano. Mia Couto deslocou-se a Castelo Branco, onde vai ser alvo de uma homenagem no encerramento do Festival Literário Fronteira.

"Não é falsa modéstia, mas sinceramente nunca percebi exactamente quais são os critérios destas coisas, num território que é tão pouco tangível, como é que se comparam os escritores. Claro, estou a dizer tudo isto mas é uma grande alegria que eu tive, uma surpresa", adiantou.

O Man Booker International Prize é um galardão internacional atribuído, de dois em dois anos, a um autor de ficção com obra publicada em língua inglesa, original ou traduzida, e reconhece o trabalho pessoal e não de uma obra em particular.

César Aira (Argentina), Hoda Barakat (Líbano), Maryse Condé (Guadalupe), Amitav Ghosh (Índia), Fanny Howe (Estados Unidos da América), Ibrahim al-Koni (Líbia), Lázló Krasznahorkai (Hungria), Alain Mabanckou (República do Congo) e Marlene van Niekerk (África do Sul) são os restantes finalistas candidatos ao prémio de 81.500 euros.

O escritor moçambicano sublinhou ainda que acha que só vai estar nos dez seleccionados: "Neste tipo de assuntos eu faço de conta que estou morto. Nem sequer nutro alguma expectativa. Em relação a tudo o que é a minha vida, não nutro expectativas, nem más nem boas", concluiu.

Mia Couto falou ainda da sua relação com Portugal, país que conheceu "sem nunca cá ter estado" e, sobretudo, por culpa da mãe, cujo ritual das histórias sobre Portugal repetia todas as noites. "A minha mãe sentava-se a contar histórias [sobre o país]. Era um momento mágico, a paixão com que contava as histórias", referiu.

Filho de portugueses, o pai natural de Rio Tinto e a mãe da Régua, Mia Couto falou ainda do seu "lado português". "Preciso de estar na janela da tristeza, mesmo para escrever uma coisa alegre. É o meu lado, provavelmente português, do sentido trágico do destino", disse. Segundo o escritor moçambicano, "aqui [Portugal] há quase uma disputa pela desgraça. Em Moçambique é o inverso. Os moçambicanos têm uma relação com a tristeza completamente diferente", declarou. O escritor falou ainda da Fundação Fernando Leite Couto, que foi criada em memória do pai que morreu há dois anos, e que funciona não só como uma editora, mas acima de tudo, pretende "fazer coisas [ao nível da literatura] com os outros".

O presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, disse que a presença de Mia Couto no Fronteira vem enriquecer o festival, a cultura e a ajudar a abrir novas fronteiras. "Hoje, com a presença de Mia Couto ultrapassamos na verdade, fronteiras que julgávamos não conseguir ultrapassar no final do 3º Festival", disse. O autarca confessou ainda que o nome do escritor moçambicano foi a sua "única sugestão" para o festival literário.