Alunos não serão penalizados se não fizerem teste de Inglês obrigatório
Na quarta-feira, cerca de 111 mil alunos vão fazer o teste de diagnóstico de Inglês sob a ameaça de greve dos professores. A inexistência de qualquer penalização para os alunos que não o realizarem pode contribuir para a adesão ao protesto contra uma prova contestada desde o primeiro momento.
A seu favor, acreditam vários directores contactados pelo PÚBLICO, a Fenprof tem o facto de a não realização da prova não ter consequências graves para os alunos. O Instituto de Avaliação Educativa (Iave), confirmou, em resposta ao PÚBLICO, que, se os estudantes não fizerem o Preliminary English Test for Schools (PET), “obrigatório para os 107 mil estudantes do 9.º ano", a consequência será “a não produção de um resultado”. Esclareceu, além disso, que não agendará novo teste se parte dos alunos não o fizer na data prevista.
Estas circunstâncias, acreditam, podem ser favoráveis a uma maior adesão à paralisação por parte dos professores que na quarta-feira são chamados a vigiar as componentes da prova designadas por “listening” (que consta da resposta a questões relativas a um texto gravado num ficheiro áudio) e “writing” (a parte escrita). Os directores também se mostram tranquilos: nem todos convocaram professores a mais. Admitem que, de um modo geral, os testes concebidos pela Cambridge são “mal-amados” desde o primeiro momento.
Há quem desconfie da transparência do processo, como os dirigentes da Fenprof. O Iave tem assegurado que “o teste não representa qualquer custo para o Estado português” e que o contributo financeiro dado pelos privados envolvidos se insere no âmbito da sua “política de responsabilidade social”. Mas, na sequência de uma exposição enviada por aquela organização sindical à Procuradoria-Geral da República, a Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária está a investigar a parceria entre o Iave e quatro empresas (o BPI, a Connexall, a Novabase e a Porto Editora) para financiar a realização dos exames de inglês certificados pela Cambridge.
Esta é uma das linhas de ataque da Fenprof. O secretário-geral da federação, Mário Nogueira, que já foi ouvido no âmbito desta investigação, prometeu entregar novos documentos à PJ, nesta quarta-feira. Mas nas escolas os obstáculos também são inúmeros.
Em 2014, a divulgação dos resultados do teste de diagnóstico teve de ser adiada, por falta de professores classificadores, que estavam a trabalhar em regime de voluntariado. Este ano, MEC e o Iave não tornaram o processo mais popular, ao determinar que a correcção seria obrigatória e ao exigir aos 2400 docentes de Inglês envolvidos que fizessem uma prova da Cambridge para avaliar a sua proficiência linguística. Para além de fazer zangar os representantes dos sindicatos, o MEC enfureceu as associações de professores de Inglês.
O MEC recuou e tornou facultativos os testes, mas já não conseguiu evitar o atraso na promoção das acções de formação dos classificadores e o adiamento de uma semana do início das provas orais dos alunos (“speaking”) que decorrem até 22 de Maio. Também não demoveu a Fenprof, que decidiu manter a greve que, segundo o Iave, tem tido “um impacto residual e localizado” no que respeita à componente oral do PET.
Esta prova, em concreto, é novidade. No ano passado, foi escolhido o Key for Schools, um teste cujos resultados estiveram longe de ser satisfatórios e serviram para concluir que era necessário tornar o Inglês obrigatório a partir do 3.º ano, já no próximo ano lectivo.
Só 21,1 % dos alunos do 9.º ano atingiram o nível esperado de B1 na escala do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas do Conselho da Europa. Dos restantes, 31,6% ficaram no nível A2, o que significa que tinham, de uma forma geral, conhecimentos equivalentes ao 7.º ano. E muitos nem a esse nível chegaram: 24,3% não passaram do mais baixo da escala (Pré A1) e 22,9% ficaram no imediatamente a seguir, o A1.
Apesar dos maus resultados, o presidente do Iave considerou que não fazia sentido “marcar passo” e anunciou a aplicação, este ano, do PET, mais difícil. Este corresponde ao nível B1, mas quem tiver resultados acima dos 90% poderá obter um certificado de nível superior, B2, que corresponde ao First Certificate e pode ser mais útil.
Aquela é, pelo menos a perspectiva do presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, que não contesta o teste no 9.º ano, mas preferia ver aplicada uma prova mais exigente no final do 12.º, “que permitisse aos alunos obter um certificado que servisse para mais do que para emoldurar e pendurar na parede”.
No ano passado, apenas 20% dos alunos pediram o certificado, segundo o Iave. Uma situação que este ano, acreditam vários dirigentes escolares, poderá agravar-se.
Fernando Pascoal, adjunto da direcção do agrupamento de escolas de Condeixa-a-Nova, perguntou em duas turmas quem tinha pedido o diploma (pagando, para isso, 25 euros) e ficou a saber que “não foram mais de dois ou três alunos, no total”. Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), tem ideia de que na escola de que é director, em Cinfães, não foi registado qualquer pedido, apesar de os estudantes do escalão B da Acção Social Escolar pagarem apenas 12,50 euros e os do escalão A não pagarem Filinto Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), tem a convicção de que “a tendência será geral”. Na escola que dirige, dos 135 alunos do 9.º ano apenas três quiseram certificado.
Em resposta ao PÚBLICO, o Iave – organismo ao qual os certificados são pedidos pelos pais, através de uma plataforma informática – escusou-se a fornecer esses dados, dizendo que o número de alunos do 9.º ano que pediram o certificado “ainda está por apurar”. Para os dos restantes graus de ensino que se inscreveram para fazer o teste (4000) esse procedimento foi obrigatório.